Homilia do Padre Bruno Esposito OP
Igreja do Seminário da Sociedade Virgo Flos Carmeli
25 de março de 2010, Solenidade da Anunciação do Senhor
É impossível negar um pedido de Monsenhor João Clá, de maneira que me cabe hoje fazer a homilia. A Festa de hoje é o centro da Vida Cristã, o tema dominante da vida de Jesus Cristo e a síntese de nosso caminho de Fé.
Contemplando nesta Igreja a cópia do afresco da Anunciação, pintada pelo Beato Fra Angélico, lembro-me do comentário feito pelo Papa João Paulo II, diante do afresco original, ao visitar a Basílica de São Marcos, em Veneza. Comentava o Papa que, nesta cena, está contida a síntese da História da Salvação.
De fato, o afresco de Fra Angélico retrata, em primeiro plano, a cena da Anunciação do Anjo a Nossa Senhora, ocasião em que o Verbo Eterno se encarnou. Ao lado, está pintada a cena de nossos primeiros pais sendo expulsos do Paraíso. É a cena que, por excelência, simboliza o pecado original e suas consequências. Realmente, o afresco sintetiza, estupendamente, a História da Salvação.
A festa de hoje nos faz contemplar, admirativos, o amor de Deus por nós. Projeto providencial de Cristo que se fez carne por amor a nós. A encarnação é a sua grande prova de amor. E, em face desta demonstração de amor, não devemos ser ingratos. Pois, o maior pecado que alguém pode fazer ao próximo, é desprezar o amor que recebeu. Ser indiferente a esse amor de Deus é uma grande ofensa, e hoje, não podemos negar e desprezar este amor de Deus, porque esse amor exige de nós uma resposta.
O essencial da Solenidade da Encarnação é a ação de Deus, porém, quis Ele condicionar à resposta de Maria essa encarnação. Por isso, Maria teve especial papel pela sua resposta perfeita, pelo seu incomensurável amor. Somente uma coisa Deus não pôde fazer no mundo: colocar limites ao amor. Nesta vida, o amor sempre pode e deve crescer. Assim, o amor de Maria sempre cresceu.
Contemplar este amor de Deus significa guardar em nosso coração e dizer sim a Ele, por isso, Deus nos diz: “Coragem! Não temeis! Avante!”.
Certo é que, o anuncio da encarnação, este anúncio de amor, exige uma resposta humilde, e de certo modo confusa. A resposta de Maria assim o foi, mas além de humilde e confusa foi, sobretudo, generosa.
Deus quer generosidade. Generosidade que não visa auto-realização, mas sim, felicidade, beatitude, salvação e sobrenatural. Generosidade em executar a vontade de Deus.
Deus quer a força da humildade. Como disse o Apóstolo, omnia possum in eo qui me confortat. Deus concede aos humildes uma força irresistível. De fato, Deus quer que reconheçamos nossa miséria, nosso pecado, mas, mormente, quer que reconheçamos seu amor a nós.
Quer humildade, mas quer também honestidade, como encontrou em Suzana. Que preferiu a morte, em lugar de se ver manchada pelo pecado. Esta reflexão sobre a grandeza do amor de Deus por nós exige também uma resposta de nosso amor.
Na Páscoa, Deus quer que não percamos tempo com as ninharias da terra, mas sim, que cumpramos nossa finalidade, que nada mais é que a união com Deus, a comunhão com Ele. Ele quer que aspiremos às coisas mais elevadas. Não quer de nós um coração de pedra, mas sim, de carne, isto é, que transformemos nossa existência pelas coisas mais belas, puras e elevadas.
Entre as coisas mais elevadas, a Cruz é o mais sublime símbolo da Terra, é um sinal irrefutável do amor de Deus. Amor que deve ser correspondido, e que, em consequência, se reflete na vida comunitária seguida com perfeição. Mas, ainda que não sejamos perfeitos, esse amor quer nossa participação e correspondência.
É o que a liturgia de hoje tem a nos dizer. Que reconheçamos o grande amor de Deus por nós.
Tradução e Adaptação: Marcos Eduardo Melo dos Santos – 2º de Teologia
(Sem revisão do Autor)