Homilia do Padre Mauro Mantovani
Igreja do Seminário
08 de abril de 2010
Caros amigo, vos ofereço escutar a língua italiana, porque é a única, na qual me posso exprimir bem. Estou muito alegre de celebrar convosco esta ação de graças ao Senhor. Estamos na oitava da Páscoa, período de alegria – assim como todo o tempo pascoal –, no qual tiramos mais conhecimentos para nossa vida, nos frutos da Páscoa do Senhor.
Chamo-me Dom Mauro, sou salesiano, e estou aqui alguns dias para lecionar algumas aulas sobre a filosofia de São Tomás. Permiti-me, antes de tudo, agradecer a Monsenhor João, aos seus colaboradores mais próximos, e a todos vós, não somente pelo convite de presidir a esta celebração, e ministrar aqui estas aulas, mas também pela esplêndida acolhida que me reservaram.
Com muita surpresa e interesse, conheci a vossa realidade como história, como identidade, e também como caminho para o futuro. Há três dias atrás, visitei o São Bento, a origem; encontrei aqui no Tabor, o presente; e ontem à tarde, ao visitar o Lumen, pude ver algum vislumbre do que será o futuro.[1] E assim, tive a possibilidade de acompanhar todos os passos da luta e da sabedoria, que vem do Senhor.
Na Missa matutina, acompanhei a vossa consagração à Sabedoria Encarnada, porque a consagração que fazeis com aquelas palavras, vivemos realmente no ambiente acadêmico, onde auxiliamos na atividade pastoral universitária, em Roma. Trabalho na primeira capela universitária situada na urbe, na qual me encontro com os jovens universitários, e pelos quais, peço a vossa oração.
Uma sabedoria que vi, e que aqui se encarna também na arquitetura e nas construções através da ordem e da estética, no cuidado especial aos particulares, como também, na atenção para com as pessoas que quando são animadas pelo amor recíproco, encontram um testemunho do novo humanismo do qual fala a Igreja.
“E disso nós somos testemunhas”, diz hoje a primeira leitura dos Atos dos Apóstolos. E Jesus no Evangelho, “Vós sereis testemunhas de tudo isso”. Consideremos, por um momento, na pessoa de Pedro, como se leu na primeira leitura a qual narra que logo após a cura do paralítico, Pedro e João disseram: “Nós não possuímos nem ouro nem prata, mas o que temos te damos, em nome de Jesus, o Nazareno, levanta-te e anda”. Encontramos no trecho de hoje a mesma dinâmica, que prossegue com as pessoas que estão em torno do paralítico, e vemos que Pedro auxilia a compreender a Escritura, como outrora havia feito o próprio Jesus, com os discípulos de Emaús. Assim, como diz o Evangelho de hoje, Jesus se faz próximo, mostra uma consonância, e um afeto profundo, e assim também Pedro diz aos que o escutam: “Eu sei que haveis agido por ignorância, assim como os vossos chefes”, contudo, com muita clareza, Pedro diz a verdade dos fatos: “rejeitastes o Santo e Justo e pedistes a liberdade de um assassino”, e por isso, lhes convida à conversão. É o desejo que temos: que se convertam de sua maldade.
Assim, conclama também a nós, antes de tudo, a responder ao convite de Pedro, à conversão de nossa vida. O Senhor nos convida à Parusia, à coragem da Fé e do amor ao próximo – Dom Bosco chamava de “amore volenza” – que é unir-se ao outro sem medo, onde quer que ele se encontre, ainda que esteja longe, e assim, lhe abrir um futuro novo, para a liberdade e a salvação de uma vida distante do pecado, sem medo de dizer a verdade.
No Evangelho encontramos ainda um outro ponto, e que demonstra como a aparição confirma o fato da sua ressurreição, fazendo entender aos Apóstolos – neste trecho que escutamos –, que Ele, na plenitude de sua pessoa glorificada, não é um fantasma, e se faz presente com o dom de sua paz, enquanto os discípulos ainda estavam falando.
É oportuno observar que “estavam ainda falando”. Os discípulos estavam narrando o que havia acontecido durante o caminho de Emaús, e como haviam reconhecido Jesus na fração do pão. Comunicavam entre si a própria experiência de Deus. Narraram como haviam encontrado a Jesus e como o haviam reconhecido, os dons que lhe fizeram, e como Ele entrou cada vez mais em suas vidas.
É um convite concreto para nós, enquanto Igreja, como Associação, e como Comunidade Religiosa, que nos estimula sempre a contar entre nós mesmo os dons da experiência de Deus, e os modos pelos quais encontramos a Deus.
A questão “queremos ver o Senhor”, o mundo de hoje continuamente a põe. Com o belo se responde com propriedade. Pois, realmente, também a arte possui uma resposta, e a nós o dever de mostrar esta verdade também presente na sua Igreja, especialmente na vida das pessoas que contam entre si o que Jesus fez na sua existência. Assim, lhes respondemos à questão, “queremos ver Jesus”, dizendo: “Sim, nós O vemos, nós fomos cobertos com sua luz, nós o tocamos nesta luz infusa em nós, sentimos sua voz no fundo do coração, e degustamos desta alegria sem qualquer comparação.
E concluo com este pensamento, com um desejo que encontrei em um texto de um bispo alemão, que morreu há poucos anos atrás, chamado Monsenhor Klaus, dirigido à sua diocese, no qual encontramos também uma mensagem para nós:
Desejo a todos nós,
Uma visão Pascal
convidando a ver,
Na morte, o mesmo que a vida;
Na culpa, o mesmo que o perdão;
Na divisão, o mesmo que a unidade;
Nas dores, o mesmo que a glória;
No homem, o mesmo que a Deus;
Em Deus, o mesmo que o homem.
No eu, o mesmo que o tu;
E em nós, toda a força da Páscoa.
(Sem revisão do autor)
Traduzido e adaptado por Ítalo Santana Nascimento (2º ano Teologia)
[1] Padre Mauro visitou a antiga Casa-Mãe da Sociedade Virgo Flos Carmeli, situada na cidade de São Paulo, jardim São Bento. O Tabor é a atual casa Mãe onde se situa o Seminário. O Lumen é um projeto que abrange os próximos edifícios da associação.