Redação (30/04/2010, Virgo Flos Carmeli) As maravilhosas catedrais góticas são, sem dúvida, alguns dos mais belos frutos oferecidos pelo Cristianismo à civilização. Nascida num período turbulento, mas também extremamente fecundo, a arte dos godos difundiu-se da Europa para o mundo inteiro. Seus idealizadores tinham como objetivo levar os homens até o seu Criador, proporcionando-lhes, por meio do esplendor, da beleza e mesmo da magnificência, a possibilidade de experimentar uma forma de contato com Ele.
Temos de concordar que aqueles antigos artistas foram sumamente felizes em seu intento.
Podemos encontrar em quase toda a Europa bons exemplares dessas obras-primas de engenharia e arte. Na França, por exemplo, há algumas de rara beleza. Partindo de Paris rumo a sudoeste, antes de percorrer noventa quilômetros já contemplaremos à distância as duas torres altaneiras da catedral de Chartres, distintas e belas, elevando-se graciosamente em meio aos ondulantes campos de trigo.
Esse monumental edifício gótico, construído no século XIII, guarda uma inestimável relíquia, a qual atrai constantemente peregrinos do mundo inteiro: a chamada Sancta Camisia, uma túnica que pertenceu à Santíssima Virgem Maria e que, segundo a tradição, foi oferecida à cidade pelo imperador Carlos Magno.
O seu imponente pórtico, como também os dois transeptos, são ornados por numerosas imagens de santos, esculpidas com extrema delicadeza, numa infinidade de detalhes impossíveis de serem absorvidos numa única visita. No interior do exuberante templo, causam profunda impressão as enormes colunas que se erguem do chão e terminam num delicado encontro, formando ogivas.
Porém, o que talvez mais tenha empolgado as sucessivas gerações de visitantes que através dos séculos buscaram Chartes são os seus incomparáveis vitrais.
A luz do astro-rei atravessa suavemente os vidros desse recinto sagrado, fazendo em seu seio brilharem as mais formosas figuras. Vivas cores e encantadoras formas refletem-se nas austeras paredes, numa magnífica multiplicidade de tonalidades que parecem continuamente pintar o ambiente.
Esses vitrais são um catecismo vivo: ora expõem uma passagem da vida dos santos, ora de algum personagem bíblico. Mostram assim uma continuidade entre os profetas que anunciavam a vinda do Messias e os santos que proclamaram sua glória com os exemplos de suas vidas.
E não apenas um catecismo. Os admiráveis vitrais de Chartres são também um afetuoso apelo espiritual: assim como essas cristalinas obras de arte se deixam transpor pelos raios do sol, recebendo cada qual um aspecto ímpar, também nós devemos permitir que a luz de Deus possa penetrar e refletir-se em nossas almas, fazendo nelas frutificar com abundância o preciosíssimo Sangue de Nosso Senhor Jesus Cristo.
Raphaël Six – 3º Ano de Teologia
ARAUTOS DO EVANGELHO. Set. 2007. n. 69.