Redação (09/05/2010, Virgo Flos Carmeli)
Padre Bruno Esposito, OP
Homilia aos membros do Instituto Teológico São Tomás de Aquino (ITTA) e Instituo Filosófico Aristotélico Tomista (IFAT), no seminário da Sociedade de Vida Apostólica Virgo Flos Carmeli. Brasil, 04 de maio 2010.
Antes de pedir perdão a Deus, peço perdão a vós pelo meu português. Todavia, quis celebrar esta Eucaristia na língua da maior parte de vós, como sinal de meu afeto. Apesar dos erros de gramática, quero mostrar afeição, pois como diz São Tomás ao comentar Aristóteles, na amizade, “o amigo quer fazer o que mais agrada ao outro”. Penso que assim agrado, portanto, celebro esta Eucaristia por cada um de vós, por tudo aquilo de belo, bom e verdadeiro que portais em vosso coração, e, sobretudo, para que o Senhor realize o vosso desejo de santidade.
A palavra de Deus no dia de hoje manifesta uma regra muito simples e elementar da vida cristã – embora tudo que é elementar, é fundamental – e nos recorda que os ramos não podem viver sem a vide, pois têm a sua vida na união íntima com a videira. Traduzo como escutamos do Evangelho. A nós que sem esta união íntima e conatural com Deus, não podemos fazer nada, nulla, absolutamente nada. E nos Atos dos Apóstolos está uma aplicação desta regra fundamentalissima. Paulo e Barnabé procuram resolver uma questão que a nós não é possível imaginar quanto era difícil para eles, propriamente porque estavam unidos intimamente a Deus, não procuravam sua vontade, seu projeto, mas somente estavam em busca do desígnio de Deus. Pensai o que significava para um israelita, nascido, visto e crescido, no culto da lei mosaica, seguir tantas prescrições, ouvir dizer que a circuncisão não era mais um requisito para seguir a Cristo. Uma coisa que não temos dificuldade em compreender em sua integridade, mas Paulo e Barnabé se colocam como anunciadores da Fé Cristã e deste virar da pagina.
São Tomás descreve esta situação entre a antiga e a nova religião de modo admirável. Eles conservaram a lei moral, embora fizesse parte do passado, pois era uma imagem do que se dá no altar.
Podemos então considerar o que tudo isso significa para nós hoje. Temos uma regra, uma indicação que não era só para o passado, mas para nossa conduta, e que nos conclama a viver intensamente nossa Fé em união cotidiana e íntima com o Senhor. Sem esta união, tudo aquilo que fazemos não possui valor, nem fruto, porque o resultado que podemos obter está na medida em que vivemos esta união.
O que significa para nós hoje? Para mim, enquanto sacerdote religioso, primeiramente, a viver o carisma que abracei sabendo que Deus me chamou, isto é, à via de Domingos “comtemplare, et comtemplata aliis tradere”. Se a minha pregação não nasce desta união com Deus, são belas palavras, mas não movem ninguém.
Para vós, que estais em período de formação, deveis viver o estudo não como qualquer coisa que se precisa galgar, mas como uma ocasião de graças, porque lhes é dada uma possibilidade que não será mais dada na vida. O ter um conhecimento que não é nocionismo, mas é caminho rumo ao amor de Deus. Isto é o que significa este período. Se perderdes este ponto de vista, perdereis a linfa do vosso estudo. Estejam convencidos de que é algo importante e útil, que ajuda em todas as atividades mais importantes de nossa vida. No trabalho, no governo, na administração, em tudo que fazeis, lembrai-vos que fazeis por vós, por Deus, e pelo serviço aos irmãos.
A autoridade na Igreja é serviço. Uma coisa que o mundo de hoje não entende, mas que é o contrário do que se pensa correntemente. Cristo ressaltou isso varias vezes, dizendo que não somos nós que comandamos o mundo, mas somos aqueles que servimos os irmãos. Isto é ser servo. O que é um servo? O que faz a vontade de Deus. Quanto mais unidos à vontade de Deus, mais daremos frutos.
E agora, apliquemos à situação hodierna de crise da Igreja e de crise das instituições, e isto não digo para julgar, mas para dizer ao Senhor: Que eu não faça outro tanto… – porque não se necessita julgar, mas pedir que não caiamos em tentação. Vemos assim que quando falta essa união, vemos o resultado em nós mesmos.
Entretanto, peço a Deus que sejais fieis ao carisma que recebestes, com todo o coração, fazendo sempre com alma, tudo aquilo que fazeis, o estudar, o trabalhar, o jogar, o falar, tudo aquilo que quereis, pois ninguém está de fora. Como diz Santa Terezinha Lisieux, o que faz a diferença é o amor com que fazemos cada coisa, ainda que tenhamos de fazer as coisas mais humildes e insignificantes, com amor elas se tornam pedras preciosas aos olhos de Deus. Não há proveito em confrontar o que eu faço e o que outro faz. Apenas peça a Deus e o faça bem. Fazê-lo com amor. Esta é a coisa mais importante. Recuperar esta dimensão é viver em um estado permanente de conversão. A fé, o amor, a conversão, não se dá uma vez na vida. Ou se ama sempre, ou nunca houve amor, ou se tem sempre Fé, ou nunca se teve Fé. E assim por diante. É uma coisa vital.
Celebramos esta Eucaristia por cada um de vós, por aquilo que portais em vosso coração, e vosso desejo de santidade, para que permaneceis fieis não somente ao vosso empenho, mas sim, à pessoa de Jesus Cristo. Não fazer as coisas apenas pelo dever, mas fazer pelo amor, indicando assim ao mundo de hoje, através da vossa alegria.
Que apesar de nosso limites, descubramos a comunidade como lugar de perdão e de festa. Não estamos aqui porque somos perfeitos, mas porque amamos a perfeição em nosso próprio limite. Somente Deus não tem limites. Peçamos esta fidelidade a Jesus Cristo.
Para concluir, São Paulo diz “eu vivo esta vida na Fé de Jesus Cristo que me amou e que deu sua própria vida por mim” (Gl 2, 20). Que este grito de São Paulo seja escutado por todos vós, todos os dias, no vosso coração, para serdes verdadeiramente Arautos do Evangelho.
Tradução e Adaptação: Marcos Eduardo Melo dos Santos – 2º ano teologia