Um convite especial

Redação (12/07/2010, Virgo Flos Carmeli) Gostaria de convidá-lo, caro leitor, a um pequeno período de recolhimento e contemplação. Sei que pela internet, não é fácil, mas é possível. Tenho certeza de que nestes instantes, todas as circunstâncias – grandes, pequenas, agradáveis ou até mesmo dolorosas – da vida quotidiana desaparecerão.

 Como achará árduo aceder a este convite, visto que o único tempo livre para ler é um interstício entre o trabalho, e sua casa, ou percurso de todos os dias, entre sua casa e o trabalho, de tal forma que quando começa tentando se concentrar, tudo parece dificultar, ouve uma motocicleta que passa, enchendo com seu som roufenho o espaço que o acolhe e perturbando seu recolhimento, ou uma TV que despeja, ao ritmo dos canais que mudam, profusões de telelixo.

Neste ponto eu concordo inteiramente com o leitor que, aliás, acho que já pode ser chamado de interlocutor, visto que já há alguns instantes estamos conversando. O mundo hodierno vive uma febricitação e agitação constantes, as pessoas andam absortas em intrincados problemas.  E por esse motivo, não conseguem mais refletir e pensar…

A existência humana deve ser, entre outras coisas, objeto de uma análise que abarque todo o seu conjunto. Essa análise é que nos faz compreender os supremos valores da vida, nos faz “dar um rumo” à nossa existência, e nos aproxima de Deus. Nesse sentido há pessoas que passam pelo “jogo da vida” e nada compreendem, vivem sem rumo e direção, facilmente levadas pelos vagalhões ideológicos que muitas vezes entram em confronto com a sua própria consciência.

Uma magnífica expressão desse modo de analisar a vida, e desse estado de espírito contemplativo, são as esculturas dos profetas do Aleijadinho. Em todas aquelas fisionomias transparece essa visão de conjunto dos acontecimentos humanos, que com seus grandes olhos, perecem estar abertos a uma visão superior da vida. Quando estamos diante deles temos a impressão que – apesar de estarem envolvidos por um grande silêncio – as pedras falam. Com seu porte hierático, grave e sublime, falam às nossas almas. Isto pode parecer à primeira vista um paradoxo, mas bem podemos dizer que se trata de um silêncio eloquente.

Ao contemplá-los sentimo-nos descansados, animados, afagados e protegidos, como que “transportados” a um mundo mais elevado.

Enfim caro leitor, posso dizer que os profetas repetem o mesmo convite, por mim feito no inicio do artigo. Não é verdade que após esses breves instantes que estivemos juntos esquecemos os problemas, as amarguras e decepções da vida? Ao indagar-me a razão disso, respondo de uma maneira muito simples: “non in commotione Dominus” (3 Rs 19, 11).[1]

Lucas Alves Gramisceli – 2º Ano de Teologia


[1] Deus não está na agitação.