Redação (08/08/2010, Virgo Flos Carmeli) A Esperança pode ser compreendida na ordem natural e na ordem sobrenatural. Naturalmente ela designa uma paixão, enquanto um movimento da sensibilidade que tende para um bem sensível ausente, mas que pode ser alcançado ainda que com dificuldade, e um sentimento, entre os mais nobres do coração humano, que se dirige a um bem honesto ausente. É um sentimento de grande importância, pois sustenta o homem em seus empreendimentos difíceis. De maneira sobrenatural, a Esperança sustenta o católico em meio às dificuldades relativas à sua santificação e salvação; tem por objeto as verdades reveladas que se referem à vida eterna e aos meios de adquiri-la, e se funda na onipotência e bondade divinas. Deter-nos-emos neste trabalho na análise da esperança sobrenatural e, dentro desta, seu papel em nossa santificação.
A Esperança contribui para a nossa santificação de três maneiras principais: primeiro, une-nos a Deus; segundo, dá eficácia às nossas orações; terceiro, torna-se princípio de atividade fecunda.
Une-nos a Deus desapegando-nos dos bens terrenos. A todo momento somos solicitados pelos prazeres sensíveis, pelo orgulho, pela sensualidade… enfim, pelas alegrias, legítimas e ilegítimas, da esfera natural. No entanto, a esperança quando apoiada numa fé viva e ardente, mostra-nos que a todas as felicidades terrenas faltam dois elementos essenciais: a duração e a perfeição. Nenhum bem terreno é suficiente de si para satisfazer o ser humano uma vez que este foi criado por Deus com sede do infinito. Após o deleite, sempre há o enfado e saciedade. A nossa inteligência jamais se dá por satisfeita sem o conhecimento da causa perfeita, e o nosso coração não se contenta a não ser em Deus. Só Ele é a plenitude do Bonum, Verum e Pulchrum. E bastando a Si mesmo, evidentemente, basta-nos a nós.
A esperança, unida à virtude da humildade, dá eficácia às nossas orações e nos obtém dos céus os favores de que necessitamos. Ensina-nos o Eclesiástico: « scitote quia nullus speravit in Domino et confusus est. Quis enim permansit in mandatis ejus, et derelictus est, aut quis invocavit eum, et despexit illum? Quoniam pius et misericors est Deus, et remittet in die tribulationis peccata (Ecle. 2, 11-12). » Em seus milagres, Cristo nosso Senhor, jamais desprezou quem a Ele recorreu com confiança. Não atendeu Ele o centurião, o paralítico descido pelo telhado, os cegos de Jericó, a Cananéia, a pecadora pega em adultério e o leproso? Ademais, não prometeu ele que “Amen, amen, dico vobis, si quis petieritis Patrem in nomime meo, dabit vobis” (Jo 16, 23)? Afinal, nada honra tanto a Deus como a confiança Nele que não se deixa vencer em generosidade, concedendo superabundantes graças.
Por fim, a esperança é um princípio de atividade fecunda. Primeiro, por que produz santos desejos, em particular o anelo do Céu e de Deus. Ora, esse anseio dá à alma o impulso e o ardor necessários para alcançar o bem suspirado e ampara os esforços empregados para a obtenção do fim desejado. Segundo, aumenta-nos as energias por meio da expectativa de uma recompensa que superará em muito os nossos empreendimentos. Se no mundo se trabalha com tanto afã para adquirir bens perecíveis, que as traças corroem e os ladrões roubam, com quanto mais razão não devemos nós esperar, quando buscamos uma coroa incorruptível! Dá-nos, ainda aquela coragem, certeza e constância que a convicção do triunfo produz. Então, é isto que nos dá a esperança, pois apesar de fracos de nós mesmos, somos fortes pela própria força de Deus.
Rafael Juneo Pereira Fonseca – 2º ano de Teologia