A Eucaristia surte efeito nos corpos dos que a recebem?

1. Introdução

Redação (15/09/2010, Virgo Flos Carmeli) Atirar-se a um carrascal, ferindo-se nos espinhos; enterrar-se na neve, perdendo o tato; flagelar-se numa inóspita gruta a fim de desprezar o corpo, por certo são meios lícitos e até excelentes quando se almeja frear tentações contra a carne. Assim procederam muitos santos na história, como São Bento e Santo Antão.

Entretanto, nem todos estão dispostos a submeter-se a tais mortificações quando o demônio sugere um mau pensamento, ou se lhes apresenta diante dos olhos algo proibido pela Lei de Deus…

2. Para vencer a concupiscência: o sofrimento e a Eucaristia

Por isso, caro leitor, sem desprezar esses meios arqui-louváveis de apaziguar os sentidos e de diminuir a concupiscência – terrível tendência para o mal –, queremos descobrir-lhe um outro, não menos excelente e eficaz. Este meio não excluirá as diversas práticas penitenciais, tais como jejuns, abstinências…

Sabemos que, apesar de muitas vezes claudicarem em algo, os exemplos e as metáforas auxiliam nossa inteligência a penetrar em realidades mais profundas. Poderíamos dizer, então, que assim como Deus concedeu dois membros ao homem para caminhar, da mesma forma, para ajudá-lo a vencer a concupiscência, proporcionou-lhe um meio mais poderoso: a Sagrada Eucaristia. Ela nos dá forças para enfrentar e atravessar incólumes, seguros e fortes, as batalhas interiores contra nossas más inclinações.

3. Visão geral sobre os efeitos da Eucaristia.

Explica-nos Gregório Alastruey que, além de produzir efeitos na alma, como o aumento da graça santificante e a glória (efeitos diretos), a remissão do pecado passado e a preservação do futuro (efeitos indiretos), a Eucaristia também surte efeitos no corpo (1952, p. 220). E dentre estes, além da ressurreição ou glória do corpo, enumera-se a mitigação da concupiscência e a pureza do coração.

Sem dúvida, se nos detivéssemos na consideração da importância dessa quantidade de efeitos produzidos pelo Santíssimo Sacramento, se nos tornaria patente quão mais rica e magnífica é a Eucaristia do que qualquer arca do tesouro existente na terra. Entretanto, como nossos olhos não podem, num só golpe de vista, abarcar todos esses efeitos, à semelhança de pedras preciosas que recebemos com o Pão dos Anjos, consideremos com acuidade apenas um deles: o último acima mencionado, ou seja, a Eucaristia enquanto fator de diminuição do fomes peccati (ou concupiscência) e de pureza do coração.

4. A Eucaristia mitiga a concupiscência e purifica o coração.

É interessante é notar o modo com que a Eucaristia produz essa diminuição. Explica a Filosofia que, quanto mais uma potência da alma se aplica a seu objeto, menos forças têm as outras para tender ao seu próprio (ALASTRUEY, 1952, p. 242). Ora, o efeito próprio da Eucaristia, como ensina São Tomás, é o aumento da caridade. E assim, crescendo esta, a vontade voa às delícias dos absolutos celestes, encontrando menos complacência nos relativos terrenos. Como diz Santo Agostinho: “O aumento da caridade é diminuição da sensualidade” (Apud ibid, p. 242). Portanto, visto que a concupiscência é mitigada em consequência do aumento da caridade, deve-se dizer que a Eucaristia produz dita diminuição mediata e indiretamente.

Quanto à pureza do coração, a digna recepção do sacratíssimo Corpo e Sangue de Nosso Senhor não poderia deixar de fazê-la florescer, posto que Ele é o Cordeiro sem mancha. Como disse Contenson, “como poderia reinar o pecado mortal em nosso corpo, quando o escolheu nosso Rei para reclinatório e trono seu?” (Apud ibid, p. 243); e Pascásio Radberto, “Feliz fruto de abundância, do qual germina a virgindade, porque nosso vinho usual corrompe a castidade, mas aquele engendra virgens” (Apud ibidem).

Como corolário do acima exposto, podemos inferir que a Eucaristia é também fonte de saúde física. Pois, como o comprova a medicina, a pureza do corpo – efeito considerado acima – é um excelente reservatório de energias. Para tal, concorre também a alegria e a paz de alma provindas da digna recepção deste Sacramento, mas estas são mais propriamente efeitos da alma agindo sobre o corpo e, portanto, deixaremos para analisar juntos esse ponto em uma próxima ocasião…

Flávio Roberto Lorenzato Fugyama – 3º ano de Teologia


REFERÊNCIA

ALASTRUEY, Gregório. Tratado de la Santisima Eucaristia. 2. ed. Madrid: BAC, 1952.