Redação (14/09/2010, Virgo Flos Carmeli) São Tomás de Aquino nos define a confiança como sendo uma “uma esperança fortalecida por sólida convicção”.¹ Analisaremos, então, alguns aspectos dessa virtude que se faz tão necessária em nossos dias, pois com freqüência nos deparamos com pessoas tristes, desanimadas, e por vezes desesperadas por não estarem habituadas a ouvir a voz da graça que nos convida à confiança. Infelizmente são tantas as decepções, proporcionadas pelos acontecimentos que nos cercam, que de uma maneira lenta e subconsciente se vai amortecendo nas mentalidades e nas almas a virtude da esperança que, segundo nos diz o catecismo, “é a virtude teologal pela qual desejamos como nossa felicidade o Reino dos Céus e a Vida Eterna, pondo nossa confiança nas promessas de Cristo e apoiando-nos não em nossas forças, mas no socorro da graça do Espírito Santo.”(1817)
Nosso Senhor nos convida à Confiança
Durante a sua vida pública, Nosso Senhor não fez outra coisa a não ser nos dar mostra de seu amor pelos homens e de convidá-los à Confiança.
À alma culpada, oprimida sob o peso das suas faltas, Jesus dizia: “Confiança, filha, os teus pecados ser‑te‑ão perdoados!”. “Confiança”, dizia ainda à doente abandonada que só dEle esperava a cura, “a tua fé te salvou”. Quando os apóstolos tremiam de pavor vendo‑O caminhar, de noite, sobre o lago de Genesaré, Ele tranqüilizava‑os por esta expressão pacificadora: “Tende confiança! Sou Eu, nada temais!”. E na noite da Ceia, conhecendo os frutos infinitos do seu Sacrifício, lançava Ele, ao partir para a morte, o brado de triunfo: “Confiança! Confiança! Eu venci o mundo!…”.²
São tantas as provas desse amor de Deus para conosco que toda e qualquer pessoa deveria nEle depositar toda sua confiança. Devemos ter a certeza de que Ele não só nos assistirá em todas as dificuldades espirituais, mas também em todas as necessidades temporais.
Uma Promessa Consoladora
“Procurai o Reino de Deus e sua justiça e o resto vos será dado por acréscimo”. Foi assim que o Salvador concluiu o discurso sobre a Providência. Conclusão consoladora, que encerra uma promessa condicional: de nós depende o sermos por ela beneficiados. Nosso Senhor não diz que quase tudo nos será acrescentado, nem que pelo menos o essencial nos será acrescentado, mas promete que o RESTO nos será acrescentado.
O que é necessário é depositar todas as nossas preocupações no Coração Divino, procurando cumprir o contrato que Ele nos propõe: procurai o reino de Deus e sua justiça, e Ele de sua parte, cumprirá a palavra dada: e o resto vos será dado por acréscimo.
Claro está que esta confiança não nos desobriga da prece. Nas necessidades temporais, não basta esperar os socorros de Deus: é necessário ainda pedi-los.
Jesus Cristo deixou‑nos no Pai Nosso o modelo perfeito de oração; ora, aí Ele faz‑nos pedir o “pão de cada dia”: “Panem nostrum quotidianum da nobis hodie”. Peçamos, pois, o pão quotidiano. É uma obrigação a nós imposta pela fé e pela caridade para conosco mesmos. Entreguemo‑nos completamente à direção da Providência, e digamos a prece do Sábio: “Não me dês nem a pobreza, nem as riquezas; dá‑me somente o que for necessário para viver; para que não suceda que, eu te renegue e diga: Quem é o Senhor? Ou que, constrangido pela pobreza me veja forçado a roubar, ou a blasfemar contra o nome do meu Deus” (Pv 30, 8‑9).
Devemos, portanto, empregar todos os meios ao nosso alcance para adquirir a confiança. Sempre meditar sobre o poder infinito de Deus, sobre o seu imenso amor, sobre a inviolável fidelidade com que Ele cumpre as suas promessas, sobre a Paixão de Nosso Senhor Jesus Cristo. Entretanto, nunca se deve parar na expectativa. Da reflexão, passemos à ação. Devemos fazer frequentemente atos de confiança: que nosso dia a dia seja sempre uma ocasião para os renovar. E é, sobretudo, nas horas de dificuldades e de provação que os devemos multiplicar. Não nos cansemos de repetir em todos os momentos de nossa vida a invocação tão tocante: “Coração de Jesus, eu tenho confiança em Vós!”.
Lucas Antonio Pinatti – 2º Ano de Teologia
¹ São Tomás de Aquino, S. Th. 2‑2, q. 129, art. 6, ad 3.
² SAINT LAURENT, Thomas de. Livro da confiança. São Paulo: Artpress, 1960. p.3.