Redação (25/09/2010, Virgo Flos Carmeli) Sucessor dos Apóstolos. Este é o título que com tanta magnificência vemos adornar a figura venerável do Bispo. Imaginar que toda sequencia episcopal procede de um São Pedro, São Paulo ou São João Evangelista é algo que deve causar grande enlevo a um espírito cheio de Fé. Convém, portanto, que tão grande dignidade seja manifesta de uma maneira bela, para que esta verdade seja sensivelmente reconhecida.
Por esta razão, o Espírito Santo foi suscitando, ao longo da História da Igreja, certos símbolos que, usados pelo Bispo, dão a entender o que há de sagrado no exercício de tão grandioso ministério.
Uma das insígnias que com muita nobreza ornamentam a figura de um Príncipe da Igreja nas celebrações litúrgicas é a Mitra (do grego μίτρα: cinta, faixa para a cabeça, diadema).
Esta possui também outras denominações, tais como Apex (barrete), sertum (grinalda), corona gloriae, gálea (capacete), tiara, cidaris, e insula. As duas cintas que caem de cada lado de sua base chamam-se vittae.
No Antigo Testamento era prefigurada por um pequeno e tênue tecido, composto e preparado com fios, usado pelos Pontífices hebreus no Templo.
A Mitra, tal qual a conhecemos atualmente, deve sua origem aos Bispos gregos, que foram os primeiros a usarem-na, colocando nela pedras preciosas sobre a tela, imitando os Reis e Imperadores, passando posteriormente essa tradição para o Ocidente.
O primeiro Sumo Pontífice que usou Mitra foi São Silvestre, posta na cabeça com um diadema.
Este paramento, em seu conjunto, simboliza um capacete de defesa que deve tornar o prelado terrível aos adversários da verdade. Lembra a descida do Espírito Santo sobre as cabeças dos Apóstolos, de quem os Bispos são legítimos sucessores. Por isso, no Rito Romano, apenas aos Bispos, salvo por especial delegação, cabe presidir ao Sacramento do Crisma ou Confirmação.
O fato de a Mitra possuir duas pontas tem um significado todo especial. Moisés, depois de receber as tábuas da Lei no Monte Sinai, desceu com aqueles dois resplendores celestiais que Deus pôs em seu rosto e lhe subiam pela cabeça. Também podem simbolizar os dois Testamentos: o Antigo (parte posterior) e o Novo (parte anterior), que o Bispo deve conhecer perfeitamente para iluminar os fiéis a ele confiados com sua doutrina e resplendor. Elas figuram ainda os dois preceitos, com os quais a Igreja deve governar: o amor de Deus e do próximo.
As duas tiras estreitas que há na Mitra e descem da base posterior (vittae), representam os dois sentidos que há na Escritura: o espiritual e o literal, nos quais o Bispo deve ser mestre, explicando-a com tanta propriedade que se possa tirar dela o espírito que dá vida aos filhos da Igreja. As duas fitas caem sobre os ombros significando que o que prega com a palavra deve executá-lo com as obras, cujo exemplo seus súditos devem seguir.
Existem dois tipos de Mitras: uma ornada com pedras preciosas (símbolo da caridade), chamada phrigiata (frisada); a outra, simplex. A primeira, o Prelado usaria nas grandes solenidades e nos pontificais. A segunda, nos ofícios simples e de defuntos.
Como o leitor pode com facilidade perceber, possui a Mitra, tanto em seu conjunto como em cada uma de suas partes, uma grande quantidade de significados e que se referem especificamente à figura do Bispo. É ela de fato uma coroa que ornamenta a fronte do Prelado, e que simboliza o que há de sagrado em sua augusta vocação.
Em comunhão com a Cátedra de Pedro, o Bispo é Príncipe da Igreja. E esta, o Corpo Místico de Cristo, que se organiza como uma verdadeira sociedade visível. Ensina a Doutrina Católica que a principal finalidade da Esposa de Cristo é conduzir as almas à eterna salvação. De onde se pode perceber qual deve ser a grandeza da missão episcopal, pois diz respeito à participação no governo dessa sociedade, cujo fim é tão inefavelmente elevado.
Esta é a razão pela qual se pode afirmar ser o episcopado, submetido devidamente à autoridade do Sumo Pontífice, a mais nobre das funções existentes no mundo em que vivemos, pois o que se relaciona ao espiritual está evidentemente acima do temporal. Aliás, é consequência própria de seu caráter episcopal a dignidade que possui o Santo Padre, que por ser o legítimo sucessor do Apóstolo São Pedro, é o Bispo de Roma e, por isto, o Bispo dos Bispos.
Thiago Neuburguer – 3º Ano de Teologia