Redação (03/02/2011, Virgo Flos Carmeli) O cristão sabe, pela inteligência e especialmente pela Revelação, que o universo, sendo ordenado, não pode ter sido criado pelo acaso ou por um destino cego (CEC 295), como se alguém lançasse letras do alto de um prédio e no solo se formassem frases ordenadas, constituindo um livro. A criação é muito mais que uma obra escrita. É ordenada com leis perfeitíssimas.
Deus ordenou a existência de todas as leis da natureza, bem como de todos os passos da História e todos os dramas da vida de cada homem. Por esta razão o livro da Sabedoria pergunta: “como poderia algo subsistir, se Ele não o tivesse querido?” (Sb 11,25), e o salmista responde: “Tudo que Deus quis, Ele o fez” (Sl 113, 11).
A vontade de Deus pode mudar?
Constam no antigo Testamento, algumas ações de Deus descritas de forma humana e que poderiam dar a entender que Deus mudou de vontade. Assim, no Dilúvio Deus haveria se “arrependido de criar o homem” (Gn 6, 7) ou ainda “se irado” contra Israel que a pouco libertara da escravidão (Dt 9, 20).
Neste sentido, inúmeras são as intervenções de Deus na História. Um Deus que permite o sofrimento de Jó, mas que depois o cumula de bens ainda maiores. Para libertar o Povo Eleito da escravidão faz portentos admiráveis no Mar Vermelho, mas não hesita em castigar o pecado de idolatria dos filhos de Israel. Esta e diversas outras passagens da Bíblia podem dar a parecer ao leitor que Deus mudou, mas é necessário fazer uma distinção, que procede e assemelha-se ao modo humano de querer.
A mudança de vontade no homem deriva do fato de perceber algum aspecto mais aproveitável em uma atitude ou objeto, de que antes não havia se dado conta. Neste sentido, a vontade de Deus é imutável, pois o Ser Onisciente conhece todas as coisas e não se engana em suas previsões, como nós humanos. Muito diferentemente de nós, Ele não quer algo contrário do que havia antes desejado. Desta forma, em razão de sua onisciência a vontade de Deus é absolutamente imutável, por isso ensina a Escritura: “Deus não é filho de homem para mudar” (Nm 23, 19).
Por outro lado, as circunstâncias podem fazer com que nós mudemos de vontade. De forma semelhante, Deus pode querer que algo mude. Assim como queremos o bem do próximo, ou a melhoria das condições de vida na sociedade, Deus quer que o pecador se converta e que os bons sejam ainda melhores. Neste sentido, a vontade de Deus não é contrária ao que era, portanto, não mudou, mas sim, quer a alteração de certas coisas, como por exemplo, que o mal seja tolhido e o bem aperfeiçoado.
Marcos Eduardo Melo dos Santo