A vida interna do seminário

Redação (05/06/2011, Virgo Flos Carmeli) Sete badaladas tocam… É um novo dia que se inicia e nos convida a galgar patamares maiores no caminho da virtude. Aqui procuramos seguir fielmente os conselhos do patrono dos jovens, cumprindo nossos deveres com aquela dose de alegria que torna valiosos os atos singelos. [1]

No seminário São Tomás de Aquino, onde vivem alguns Arautos do Evangelho, a vida começa bem cedo. Porém, há um matiz: se tão logo nasce o desejo de fazer por Deus grandes obras, este vem sempre depois de uma breve oração. Todos despertam ávidos de novas cristãs audácias e se reúnem junto a uma piedosa imagem da Virgem Maria, para implorar copiosos auxílios, assim como a proteção do Príncipe São Miguel e de seus anjos. Rezam-se algumas jaculatórias e dá-se a dispersão, a fim de que os seminaristas se preparem para o Santo Sacrifício da Missa.

A Igreja nesta hora matutina parece tomar especial coloração com o brilho intenso dos vitrais ao sol. Contudo, esta impressão fica aquém da realidade sublimíssima do que ali se passa, é Cristo imolado a responder o clamor incessante de seus filhos: “Saciai-nos de manhã com vosso amor e cantaremos de alegria o dia inteiro” (Sl 89,14).  É só alimentados com o Pão do Céu que partimos para tomar um vigoroso café da manhã, acompanhando a leitura de algum texto de vida espiritual. Dentre eles, agrada especialmente o da história dos santos, pois são a doutrina de Nosso Senhor posta em realidade.

Ouvimos outra vez soar o sino, e nos dirigimos ao pátio em frente à Igreja, para que, formados e alinhados em fileiras nos conjuntos respectivos de cada classe, cantemos o Credo em latim. O estandarte dourado com o símbolo da Associação precede os blocos de alunos, que vão marchando em cadência até as salas, ao som do hino pontifício ou outra música de igual esplendor, acompanhados por caixas, tambores, e diversos instrumentos musicais; lá, os estudantes, de pé,  esperam os professores para a prece à “Rainha dos estudos” e o começo das aulas. Então, o silêncio guardado até ali dá lugar a conversas sadias – no contexto das matérias, é claro!

A ordem e a disciplina aplicadas ajudam a manter a convicção de alma na prática dos bons propósitos e a aceitar com admiração e respeito os ensinamentos dados. Com esse espírito, não só estudamos a sã doutrina de Cristo e tudo o que lhe antecedeu como preparação, mas, sobretudo, buscamos amá-Lo em Suas incontáveis representações criadas. De outro lado, cada princípio, cada fato histórico, cada explicitação filosófica e teológica, nos ajudam a conhecê-Lo profundamente; e assim, neste arco gótico do amor e do conhecimento, rumamos para a santidade e para o cumprimento da missão de católicos militantes.

Terminada a aprendizagem matutina, os corredores da faculdade se esvaziam, o pátio é mais uma vez preenchido, e realiza-se outra marcha – também cantada – que conduz os arautos ao refeitório para o almoço. O silêncio toma de novo seu cetro e somente faz reverência à bela sacra “ante prandium”, composta pelas orações de bênção dos alimentos e entoada pelo Digníssimo Reitor. Tornou-se comum nesta hora escutarmos ou mesmo assistirmos por vídeo às homilias feitas por nosso Fundador, que contribuem de modo excelente para a cultura teológica, pelos temas serem elucidados com incontáveis exemplos.

Não pode faltar uma pequena sesta, ou um cochilo, como é bem conhecido nas terras brasileiras, para mitigar o cansaço intelectual e recuperar um pouco as energias. Revigorados, os Arautos partem para a segunda etapa do dia, cheia de incontáveis surpresas. De fato, se a manhã no seminário leva o mérito da disciplina e do labor estudantil, a tarde ganha sempre o prêmio da piedade, da prontidão, e da obediência. O período vespertino é muito variado, oferecendo a possibilidade de atividades diversas. A maior parte dos seminaristas aproveita este período para rezar – máxime o Ofício Divino – e estudar diante do Santíssimo Sacramento, permanentemente exposto na Capela. Outra parte dedica-se aos trabalhos urgentes da casa, a um exercício físico oportuno, ou treino de coro e de instrumentos musicais. No entanto, ninguém pode prever as ordens dadas pelo Superior para acompanhar um Sacerdote ao hospital com o objetivo de ministrar a unção dos enfermos a doentes, ou a uma visita apostólica ou missionária, levando a imagem de Nossa Senhora de Fátima, talvez a uma aula de boas maneiras, de catecismo aprofundado, ou de história sagrada para os do seminário menor, etc. Enfim, tudo funciona com a sábia norma do “praesto sum” (Cf. 1 Sm 3, 4), ou seja, da íntegra prontidão para cumprir a vontade de Deus em suas diversas facetas.

Depois do lanche, é celebrada ainda uma missa para que possamos nos valer da Sagrada Comunhão duas vezes ao dia, à qual comparecem os Arautos que moram nas redondezas, e, com certa frequência, os de outros estados ou países, terciários Arautos e quantos desejarem assisti-la. Ao final desta, o silêncio torna a vigorar, e nos preparamos para o jantar, que é antecedido pelo cortejo solene da ladainha do Sagrado Coração de Jesus, em língua latina, e da sacra “ante coenam”, que propaga no ambiente uma atmosfera de paz e serenidade tão próprias à noite que vai se seguindo. Entoa-se a segunda parte da sacra, como no almoço, e dirigimo-nos à Igreja para encerrar o dia com o canto de completas e da “Salve Regina”.

Assim, guardados pelo olhar materno de Maria Santíssima, os Arautos preparam-se para o descanso noturno, que os fará recobrar o vigor para a lida. Entretanto, antes deste, nada como uma passagem rápida pelas páginas de um bom livro…

Ítalo Santana Nascimento


[1] Cf. São João Bosco. O Cristão bem formado. Tradução de Eduardo de Carvalho. São Paulo: Factash Editora, 2005: “Dois são os artifícios que o demônio, principalmente, costuma usar para afastar o cristão do caminho da virtude. O primeiro é fazer crer que, para servir Deus, é preciso levar uma vida melancólica, longe de todo divertimento e prazer” (pag. 7).