A divindade de Jesus comprovada por suas próprias doutrinas

Redação (28/10/2013, Virgo Flos Carmeli)

Tendo chegado Nosso Senhor aos trinta anos, deu início à sua vida pública, na qual se apresentou como Enviado do Pai, Messias prometido e Filho de Deus. Tudo isso Ele provou magistralmente, com a sua doutrina e com os vários milagres que ficaram registrados nas páginas dos Evangelhos.

 

No Evangelho de São Marcos, após pronunciar o grande Sermão da Montanha – um verdadeiro exemplo da grandeza, sublimidade e novidade da doutrina ensinada por Ele, encontramos uma pequena passagem na qual Nosso Senhor nos diz: “Não julgueis que vim abolir a lei ou os profetas. Não vim para os abolir, mas sim para levá-los à perfeição.” (5, 17). Ora, quem somente pode levar a lei e os profetas à perfeição é um Deus, pois a nenhuma criatura humana é possível tornar algum outro perfeito; com maior razão só Ele, o Homem-Deus, poderia levar a Lei e os profetas à perfeição.

Já no Evangelho de São João, Ele mesmo se proclama a “Luz do Mundo” (8, 12), “o Caminho, a Verdade e a Vida” (14, 6). E em outra passagem diz que “Comigo está o Pai que me enviou” (8, 16). Como nos explica Bartmann:

“Indubitavelmente muitíssimas vezes diz Jesus ter sido mandado pelo Pai, mas, por causa da sua unidade com o Pai, vem e fala também no próprio nome, invocando a própria dignidade e autoridade. O que diz, Ele o vê e sente na divindade. Sua doutrina não se deriva da fé recebida de alguém que está mais alto, tampouco é recebida e descoberta com a reflexão; mas vem de Deus, por imediata visão da sua essência. Ele haure-a na própria fonte interior. ‘Nós falamos do que sabemos e testemunhamos o que temos visto’ (Jo 3, 11). O profeta diz: Assim fala o Senhor; mas Cristo: ‘Eu vos digo…’ ‘Quem conhece e possui o Filho conhece e possui o Pai.’” (Jo 8, 19; 14, 9). (1962, p. 114)

Em meio ao barbarismo existente naqueles povos antes da vinda de Nosso Senhor, a fim de manter a ordem no povo eleito, encontramos uma passagem, pela qual nos fica claro que raças existiam naquela época: “Se um homem ferir o seu próximo, assim como fez, assim se lhe fará a ele: fratura por fratura, olho por olho e dente por dente; ser-lhe-á feito o mesmo que ele fez ao seu próximo” (Lv 24, 19-20). Ou seja, o criminoso seria punido da maneira igual ao dano causado a outrem; a punição seria equivalente ao erro cometido. Entretanto, com o advento de Nosso Senhor à terra, em meio à maravilhosa doutrina ensinada por Ele, encontramos uma passagem bem diferente desta:

“Tendes ouvido o que foi dito: Olho por olho, dente por dente. Tendes ouvido o que foi dito: Amarás o teu próximo e poderás odiar teu inimigo. Eu, porém, vos digo: amai vossos inimigos, fazei bem aos que vos odeiam, orai pelos que vos [maltratam e] perseguem. Se amais somente os que vos amam, que recompensa tereis? Não fazem assim os próprios publicanos? Se saudais apenas vossos irmãos, que fazeis de extraordinário? Não fazem isto também os pagãos? Portanto, sede perfeitos, assim como vosso Pai celeste é perfeito. (Mc 5, 38. 43-44. 46-48)

Realmente é bem diferente da passagem do Levítico, pois agora não seria mais “olho por olho, dente por dente”, mas a nova lei que Nosso Senhor nos veio ensinar: o amor ao próximo, e mais ainda, o amor à perfeição: “Sede perfeitos, assim como vosso Pai celeste é perfeito.” Eis aí outra prova da divindade de Nosso Senhor Jesus Cristo: quem havia revelado os preceitos do Levítico a Moisés foi o próprio Deus; e Nosso Senhor sobrepôs à lei do Levítico – como vimos acima, a lei da perfeição: somente um Deus-Filho pode mudar as leis proferidas à Moisés pelo Deus-Pai.

Todas as palavras saídas dos lábios de Jesus eram impregnadas de uma sabedoria e de uma autoridade sobre-humanas: “Jamais homem algum falou como este homem!” (Jo 7, 46). Eis aí mais uma prova da divindade de Nosso Senhor, pois como nos diz Salim“os judeus, que reservavam o apelativo de “rabbi” – mestre, aos escribas que transmitiam uma doutrina, não o negavam também a Nosso Senhor Jesus Cristo.[1] Mais que isso, reconheceram no seu ensino uma autoridade incomparável: ‘porque ele ensinava como quem tinha autoridade, e não como os escribas e os fariseus.[2]’”

Portanto, Nosso Senhor ensinava com uma autoridade tal que os próprios judeus o reconheceram como rabbi, mesmo não o sendo juridicamente.

Entretanto, a maior prova do seu magistério como Deus feito Homem era a perfeita harmonia da sua doutrina com a sua vida. Assim diz Bartmann:

“Jesus procura inserir sua doutrina na vida dos ouvintes e incessantemente os exorta a realizá-la: ‘A luz veio ao mundo, mas os homens amaram mais as trevas do que a luz, pois as suas obras eram más. Mas aquele que pratica a verdade, vem para a luz. Torna-se assim claro que as suas obras são feitas em Deus.’ (Jo 3, 19. 21); ‘Se alguém quiser cumprir a vontade de Deus, distinguirá se a minha doutrina é de Deus ou se falo de mim mesmo’ (Jo 7, 17). Por primeiro dá o exemplo de perfeita observância do que Ele ensina; por isso, convida os seguidores a aprender, não somente de suas palavras, mas também do seu modo de agir, de suas ações: ‘Dei-vos o exemplo para que, como eu vos fiz, assim façais também vós’” (Jo 13, 15). (1962, p. 117)

Assim, concluímos que a doutrina pregada pelos Apóstolos e pela Igreja não é senão a doutrina ensinada por Nosso Senhor Jesus Cristo: verdade e santidade. Essa doutrina possui uma harmonia maravilhosa, uma beleza, uma grandeza, uma evidência sempre crescentes a todos que dela se aproximam. Podemos, então comprovar que as doutrinas próprias do cristianismo, os dogmas, os segredos da natureza divina revelados à humanidade, não são produzidos por nenhuma ciência humana ou concepção filosófica, mas têm uma fonte divina; que a pureza de sua moral, a sublimidade dos mistérios, a dignidade do sacerdócio, a majestade do seu culto e de suas cerimônias se levantam tão alto, que se existe uma religião verdadeira sobre a terra, esta só pode ser a Católica, pregada por Jesus de Nazaré, o Verbo feito carne que habitou entre nós. (Cf Jo 1, 14)

Por Pe. Felipe Isaac Paschoal Rocha, EP

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

BARTMANN, Bernardo. Teologia Dogmática. São Paulo: Paulinas, 1962. v. 2.

Bíblia Sagrada. 94. ed. São Paulo: Ave-Maria, 1995.

SALIM, Emílio José, Pe. Sciencia e Religião. São Paulo: Escolas Profissionais Salesianas, 1934.


[1] “Nisto aproximou-se dele um escriba e lhe disse: Mestre, seguir-te-ei para onde quer que fores” (Mt 8, 19); “Então alguns escribas e fariseus tomaram a palavra: Mestre, quiséramos ver-te fazer um milagre” (Mt 12, 38).

[2] “Com efeito, ele a ensinava como quem tinha autoridade e não como os seus escribas” (Mt 7, 29)