Sacramentos: os melhores presentes que o Pai nos deu

Redação (08/10/2013, Virgo Flos Carmeli)

Os Sacramentos da Nova Lei, instituídos pelo próprio Deus para produzir a graça na alma são, talvez, os maiores presentes concedidos a nós, suas ingratas criaturas, a fim de que possamos cumprir a nossa finalidade com maior facilidade e consciência: conhecer o Criador, amá-Lo e servi-Lo, para que, assim, nos salvemos.

        Batismo de Santo Inácio de Loyola – Santa Casa, Loyola

 

Nosso primeiro pai, Adão, foi criado no Paraíso com todos aqueles dons que quereríamos possuir: a ciência infusa, domínio sobre os animais, impassibilidade, imortalidade. Isto, além de todos os dons sobrenaturais infinitamente superiores em importância, tais como o estado de Graça, a concessão da parte de Deus de todas as virtudes infusas e dos Dons do Espírito Santo, todos estes em grau incomensurável, uma vez que era a primeira criatura humana criada pelo Pai Eterno.

Quão magnífica, extraordinária e excelsa era a vida de Adão no Éden! Além de todos esses benefícios, conversava com o próprio Deus à tarde. Era alvo de enorme predileção por parte de seu Criador, a ponto de Este, em sua Infinita Sabedoria, vendo-o sozinho, no paraíso, lhe ter mandado uma companheira. Não sendo bastante, ainda o fez rei da criação inteira.

Apenas um mandamento Deus lhe estabeleceu: “De qualquer árvore do jardim podes comer, mas da árvore da ciência do bem e do mal não comerás, porque no dia em que dela comeres, morrerás indubitavelmente”[1].

Diante de todos os benefícios e graças concedidas, de todos os grandiosos favores dados pela Divina Providência, Adão descumpre este mandato. Quanta infidelidade, quanta incorrespondência, quanta ingratidão! Ele poderia comer de todos os frutos do Paraíso[2], os quais eram de enorme beleza e, certamente, possuíam sabores inefáveis[3]. Por que foi comer logo daquele único proibido?

Por uma tentação de orgulho induzida pela serpente[4], o mais astuto dentre os animais do paraíso[5], Adão e Eva cometem essa enorme falta a qual transferiria de geração em geração todos os efeitos desta desobediência: o Pecado Original. Com tal indisciplina nosso primeiro pai perde todos aqueles benefícios, ou seja, poderá morrer, perderá aquele domínio que possuía sobre todos os animais, terá de comer o pão com o suor de seu rosto[6]. E como Deus é justiceiro e castiga os que lhe são infiéis[7], tirou-lhe todos os dons sobrenaturais. Adão perdeu o estado de graça, as virtudes, os dons, foi expulso do Paraíso. Terá de recuperá-los agora através da penitência pela vida inteira.

Certamente, Deus poderia ter acabado com aquilo que havia criado e depois recriar de outro modo sem o pecado de Adão, mas Deus o permitiu desta forma. A História da humidade continuará. Adão e Eva têm dois filhos: Caim e Abel. Logo no início da Sagrada Escritura percebe-se já quanta infidelidade daqueles que não possuíam mais as qualidades de seu pai, antes do pecado. Caim, por inveja dos oferecimentos feitos pelo seu irmão Abel, mata-o.[8]

Quantas faltas cometeria ainda a descendência de Adão! Basta percorrer as narrações da Sagrada Escritura: são pecados que levam  Deus acabar com toda a Humanidade através do Dilúvio, excetuando Noé e sua família; o Senhor do universo confunde a língua dos homens que se orgulhavam construindo a Torre de Babel; ao libertar o povo judeu da escravidão do Egito, prometendo-lhe aquela terra de onde corre leite e mel, vê-os reclamando no deserto a falta de água, de carne, e construindo um bezerro a fim de adorá-lo em lugar do Deus dos deuses e Senhor dos senhores.

Enfim, os fatos seriam inúmeros. Mas, diante de tantas infidelidades e incorrespondências aos desígnios de Deus, como Ele agiu?

“Ao chegar a plenitude dos tempos, enviou Deus a seu Filho, nascido de uma Mulher, nascido sob a lei, para resgatar os que se achavam debaixo da lei e para que recebêssemos a filiação adotiva”[9]. Quanta misericórdia, clemência e bondade! Diante de todos os pecados a Segunda Pessoa da Santíssima Trindade encarna-se e se faz homem, para morrer na cruz, remir nossos pecados e cumprir em toda sua plenitude as promessas até aí feitas, além de nos dar, em tudo, o exemplo, a fim de que possamos ser perfeitos como nosso “Pai celeste é Perfeito”[10].

Como se fosse pouco o Verbo de Deus ter-se feito carne, deixou-nos a Santa Igreja fundada por Ele, de seu Lado aberto pela lança, e os sete sinais sensíveis da Graça que nos concedem a Graça, nos fortalecem na virtude e nos fazem alcançar o Céu: os Sacramentos.

Os Sacramentos da Nova Lei, instituídos pelo próprio Deus para produzir a graça na alma[11] são, talvez, os maiores presentes que nos são concedidos a nós, suas ingratas criaturas, a fim de que possamos cumprir a nossa finalidade com maior facilidade e consciência: conhecer o Criador, amá-Lo e servi-Lo, para que, assim nos salvemos.

Estes sinais sensíveis da Graça não agem como os, também chamados Sacramentos, da Antiga Lei, pois após a vinda de Nosso Senhor Jesus Cristo é Ele mesmo que age, portanto, seu efeito se produz ex opere operatur, ou seja, independe da virtude que o ministro ou o indivíduo que os recebe tenham. Os Sacramentos da Antiga Lei, tais como os sacrifícios pacíficos, os holocaustos, o bode expiatório, a circuncisão, agiam ex opere operantis, pois conferiam Graça na medida da fé daquele que os recebia ou cumpria.[12]

Tal foi o modo de, mesmo após sua Ascensão, Deus permanecer conosco e nos unir a Ele. Pois com o Batismo é-nos conferida a própria Vida Divina, é apagado o Pecado Original e a Divina Providência nos concede todos os Dons e Virtudes próprias a um verdadeiro Filho de Deus. Com a Confirmação somos elevados à condição de Soldados de Cristo, Ele nos faz mais forte contra a tentação, embustes e ciladas do demônio. Deixou-nos a Eucaristia, dom que nem os Anjos possuem no Céu, pois com ele podemos receber o próprio Deus em nós. A Confissão, Sacramento através do qual Deus nos concede o perdão pelos nossos pecados que, por infidelidade, tantas vezes cometemos. O Matrimônio abençoou com graças eficacíssimas aquilo que naturalmente já era concedido à humanidade. A Ordem a qual faz com que simples homens se tornem pessoas sagradas e ajam na própria Pessoa de Cristo (in Persona Christi). Por último, a Unção dos Enfermos, com a qual, a Divina Misericórdia nos dá nos últimos momentos de nossa vida terrena o perdão dos pecados e méritos como se tivéssemos correspondido a todas as graças recebidas durante nossa peregrinação neste vale de lágrimas.

É, portanto, imensamente necessário, de nossa parte, recorrermos a esses auxílios prestados pela Divina Providência, sem os quais nos seria terrivelmente mais pesada e difícil a salvação eterna. Além disso, devemos cada vez mais dar graças a Deus por ter-nos concedido tais benefícios, esses melhores presentes de que toda a humanidade tinha necessidade, frutos de sua infinita benignidade e provenientes de sua Onipotência Divina.

Por Pedro Faustino Braga


[1] Gn 2, 16-17.

[2] Cf. Gn 1, 29.

[3] Cf. Gn 2 ,9.

[4] Cf. Gn 3, 4-5.

[5] Cf. Gn 3, 1.

[6] Cf. Gn 3 ,17-19.

[7] Cf. Dt 5, 9.

[8] Cf. Gn 4, 1-8.

[9] Gl 4, 4-5.

[10] Mt 5, 48.

[11] BOULENGER. Doutrina Catholica. 3ª parte. São Paulo; Francisco Alves Paulo de Azevedo e Cia. 1927. p. 42.

[12] Cf. PHILIPON, M. M. Los Sacramentos em la vida Cristiana. Ed. 2 .Madrid; Palabra. 1980. p. 8.