Redação (18/11/2013, Virgo Flos Carmeli) Acerca da existência do Purgatório, a Santa Igreja já se expressou no Concilio de Trento (entre aos anos de 1545 a 1563), mais especificamente na 25ª seção dos dias 3 e 4 de dezembro no ano de 1563, no reinado de Sua Santidade o Papa Pio IV.
Apresentaremos agora um trecho retirado do Magistério da Santa Igreja, sobre o seu pronunciamento acerca do Purgatório:
Já que a Igreja católica, instruída pelo Espírito Santo, a partir das Sagradas Escritura e da antiga tradição dos Padres, nos sagrados Concílios e mais recentemente neste Sínodo ecumênico ensinou que existe o purgatório e que as almas aí retidas, podem ser ajudadas pelos sufrágios dos fieis e sobretudo pelo santo sacrifício do altar, prescreve o santo Sínodo aos bispos que diligentemente se empenhem para que a sã doutrina sobre o purgatório, transmitida pelos Santos padres e Sagrados Concílios seja acreditada, mantida, ensinada e em toda a parte pregada. [1]
Podemos ver por este pequeno trecho, que todos os homens devem acreditar na existência do purgatório, pois a Santa Igreja declara anátema quem for de algum modo contra essa verdade de fé.[2]
“ […] um cárcere criado expressamente pela justiça de Deus, cheio de fogo e de todos os tormentos […].” [3]Quem vai para lá? É a primeira pergunta que nos assalta. Deus decreta irem para lá, os verdadeiros penitentes que saem deste mundo antes de ter satisfeito com frutos dignos de penitência pelo cometido e omitido.
Como nos ensina Mons. João Clá Dias em varias de suas reuniões de formação, homilias etc., todo o homem ao cometer qualquer pecado, ofende a Deus, seu Criador e Ser infinito, a sua própria consciência, e a ordem do Universo criada por Deus. O homem, ao pecar, vai contra essa ordem, pois Deus não criou o Universo com o fim de se sujeitar ao pecado, porque Deus não pode criar algo que, por natureza, já venha com a marca do pecado.
No sacramento da reconciliação é perdoada a falta contra a própria consciência e contra Deus, pois Ele a pagou na cruz, ficando sem ser perdoada a falta contra a ordem do Universo, chamada de pena temporal. Mas a alma não pode contemplar a Deus face a face no céu, sem antes estar inteiramente purificada. Então como resolver o problema? Deus na sua misericórdia criou o purgatório para esse fim, caso o homem não tenha satisfeito, na sua vida terrena, a pena temporal.
Mas como podemos imaginar o Purgatório? Uma prisão com duas portas, uma que se abre com a chave da morte, outra, com a da purificação. Morte porque só após a morte se entra, e purificação, porque só após a purificação da alma se sai. Cheia de fogo, sem beleza alguma, repleta de todo tipo de sofrimentos, que não são do corpo, mas, pior, da alma. E assim como Deus via a nossa alma do Céu com todos aqueles horrores que o pecado produz, assim nós também vemos o nosso horror e o dos outros. Imaginemos uma pessoa que por uma simples curiosidade, olhou para algo inconveniente e consentiu. Deus decreta que tem de purgar durante 230 anos. O que valeu esse olhar? Um castigo!
Mas muito mais severo é Deus para com os religiosos. Pois essas pessoas, de modo especial, devem tender à perfeição, pelo fato de terem feito tal propósito. “As culpas veniais desagradam mais a Deus em um religioso do que em um secular, que vive no meio dos escândalos e das seduções do mundo […]. As infrações da Regra, as pequenas murmurações contra os confrades e superiores, as violações ainda que leves, dos votos, máxime de pobreza, com muito rigor serão expiadas no Purgatório.” [4]
“Uma alma vinda de lá dizia a uma piedosa religiosa belga: Minha filha, vive santamente, porque o purgatório reservado às religiosas é terrível.” [5]
Santa Margarida Alacoque narrou um fato que expressa, de alguma maneira, a gravidade de nossos atos. Narra que teve um sonho, no qual aparecia uma religiosa que há pouco havia morrido, comunicando que Deus a tinha condenado a ficar no Purgatório durante muito tempo. Margarida acordou, sabendo que não se deve acreditar em sonhos, e com isso não deu importância ao fato. Mas a alma que estava purgando, querendo ser libertada o quanto antes, então diz à santa:
“Pedi ao Senhor por mim, oferecei-lhe os vossos sofrimentos, unidos aos de Jesus Cristo, para alívio dos meus. Dai o mérito de tudo quanto fizerdes até á primeira sexta-feira de maio, dia em que comungareis por mim.” [6]
E assim fez com a licença da superiora.
Mas seus sofrimentos aumentavam cada vez mais, a ponto de a superiora, vendo o seu estado, mandá-la para a cama. Quando lá chegara, a pobre alma apareceu-lhe dizendo: “Eis que estás no teu leito bem comodamente; repara que diferença! Eu deitada em um leito de fogo, onde sofro tormentos insuperáveis!” [7]
Santa Margarida, ao descrever este fato, dizia que sempre tremia, pelo horror de ter visto aquela cama. [8]
A parte superior era feita de pontas agudas incandescentes, que lhe entravam nas carnes e dizia-me que isso era por causa da sua preguiça e negligência da observância da regra e sua infidelidade a Deus… Dilaceram-me, dizia a alma, o coração com pontas de ferro ardente; esta é a mais cruel de minhas dores, em expiação dos pensamentos de revolta, das murmurações e da desaprovação com que me ocupava, contra os meus superiores. A minha língua é devorada por vermes, para expiar as minhas palavras contra a caridade e pelas faltas de observância do silêncio: olha a minha boca totalmente, lavrada de chagas. [9]
Com este pequeno fato, podemos ver o quanto são sérios os nossos atos. Pois um ato de revolta agora, depois terá de ser purificado, e de que maneira…
Mas, pelo poder do Papa, é decretado por Leão X, que são de fé as indulgências, ou seja, apagam a pena temporal, tanto a quem está na terra, como a quem já está no Purgatório.[10]
Por Carlos Príncipe
[1] DH 1820. (Grifo nosso. Tradução nossa).
[2] DH 1580. (Tradução nossa).
[3] BELTRAMI, 1898, p. 42.
[4] Cf. BELTRAMI, 1898, p. 66.
[5] BELTRAMI, 1898, p.66.
[6] BELTRAMI, 1898, p.72.
[7] BELTRAMI, 1898, p. 71.
[8] Cf. BELTRAMI, 1898, p.72.
[9] BELTRAMI, 1898, p. 71.
[10] Cf. DH 1448.