“Glória a Deus nas alturas e paz na terra aos homens por Ele amados”. Com este cântico de louvor os Anjos anunciaram aos pastores o maior acontecimento de toda história da humanidade. Convidamos você, caro leitor, a conhecer um pouco mais este sagrado encontro do céu com a terra, de Deus com os homens através de seus santos Anjos.
Redação (14/12/2014, Virgo Flos Carmeli) “Havia pastores que estavam nos campos próximos e durante a noite tomavam conta dos seus rebanhos. E aconteceu que um anjo do Senhor apareceu-lhes e a glória do Senhor resplandeceu ao redor deles; e ficaram aterrorizados. Mas o anjo lhes disse: ‘Não tenham medo. Estou trazendo boas-novas de grande alegria para vocês, que são para todo o povo: Hoje, na cidade de Davi, nasceu o Salvador, que é Cristo, o Senhor. Isto servirá de sinal para vocês: encontrarão o bebê envolto em panos e deitado numa manjedoura’. De repente, uma grande multidão do exército celestial apareceu com o anjo, louvando a Deus e dizendo: ‘Glória a Deus nas alturas, e paz na terra aos homens aos quais ele concede o seu favor’.
Quando os anjos os deixaram e foram para os céus, os pastores disseram uns aos outros: ‘Vamos a Belém, e vejamos isso que aconteceu, e que o Senhor nos deu a conhecer’.
Então correram para lá e encontraram Maria e José e o bebê deitado na manjedoura. Depois de o verem, contaram a todos o que lhes fora dito a respeito daquele menino, e todos os que ouviram o que os pastores diziam ficaram admirados. Maria, porém, guardava todas essas coisas e sobre elas refletia em seu coração. Os pastores voltaram glorificando e louvando a Deus por tudo o que tinham visto e ouvido, como lhes fora dito”. (Lc 2, 8-20)
Na gloriosa noite do Natal, muitos dormiam, alguns velavam. Entre eles, a Virgem Maria e o Patriarca São José esperando, na intimidade do presépio, o nascimento milagroso do Menino Jesus. Também alguns pastores vigiavam. Cumpriam seu dever de custodiar o rebanho, sem conceder ao sono um instante de trégua. As ovelhas estavam seguras, elas provavelmente repousavam. Aqueles homens, acostumados à paz dos campos, estariam em silêncio ou conversariam, olhando para as estrelas? Uma coisa é muito provável, seus corações estavam sendo preparados pela graça para a aparição dos anjos. Como? São Lucas não nos conta… mas ao chegarmos ao céu, como assim esperamos pela misericórdia de Deus, eles mesmos narrarão os pormenores de uma cena quase poética, como a que se medita.
Essa vigilância dos pastores, lembra de alguma forma, a virtude tão louvada por Nosso Senhor no Evangelho: “Vigiem e orem para que não caiam em tentação. O espírito está pronto, mas a carne é fraca” (Mt 26, 41). O receio dos lobos mantinha acordados aqueles pastores. Como poderiam imaginar que no lugar de animais hostis veriam com seus olhos um Anjo resplandecente, e assistiriam com seus ouvidos ao primeiro e mais belo concerto de Natal? Eis o prêmio das almas vigilantes, daqueles que temem o mal e se mantém alertas para evita-lo.
Porém, só é vigilante quem é humilde, quem conserva a clara noção de sua fraqueza e pequenez. Esse mantém-se sempre atento contra os que tramam sua ruína. Mas, quem se julga forte e poderoso, esquece dos inimigos, abaixa as defesas, e… tantas vezes perece em sua presunção.
Sim, os pastores eram humildes, tal como o explica Mons. João Scognamiglio em sua obra “O inédito sobre os Evangelhos”:
“Pela peculiaridade de sua profissão, o pastor não possuía grandes ambições e, em geral, tendia a ser muito contemplativo. Suas cogitações voltavam-se para o firmamento, as estrelas e demais belezas da natureza. Por que homens dessa categoria, foram, de repente, visitados por Anjos? Por serem despretensiosos, livres de orgulho, vazios de si. Se analisarmos a História, veremos que os Anjos, para anunciar alguma boa-nova ou comunicar alegria, só se apresentam aos humildes” (vol III, p. 100-101).
Bons elementos para uma meditação. Somos católicos vigilantes, atentos contra a sedução do mundo, contra a nossa fraqueza e contra as insídias do demônio? Seremos humildes, contemplativos, amantes do silêncio? Aprendamos a viver como ensina São Paulo, sem grandes aspirações terrenas: “não ambicioneis coisas altivas mas acomodai-vos às humildes” (Rm 12, 16). Assim poderemos também nós, receber as visitas dos anjos, ou ouvir a subtil voz do Espírito Santo.
Os pastores, então, viram o Anjo, e a glória do Senhor resplandeceu em torno deles. Sua reação foi de terror. Por que? Por um duplo motivo. A visão do anjo, causa medo “pela imensa desproporção entre a criatura humana e a angélica, pois, tal é a superioridade desta, que sua simples presença deixa a pessoa exausta, como que fora de si” (vol III, p. 101). À aparição do Anjo, acrescenta-se a visão da Glória do Senhor, numa luz inefável mais brilhante que o Sol. Anteriormente, tal manifestação gloriosa de Deus havia sido contemplada por todo o povo de Israel, quando uma nuvem de luz inundou o Templo com seu fulgor, nos dias de Salomão (1Reis 8, 10-11). Também Ezequiel vira profeticamente o Templo de Jerusalém inundado da Glória do Senhor, sinal da presença redentora de Deus e de uma Nova Aliança: “A nação de Israel jamais contaminará o meu santo nome, nem os israelitas, nem seus reis, mediante a sua prostituição e os ídolos sem vida de seus reis, em seus santuários nos montes” (Ez 43, 7). Como não temer diante de tanta grandeza? Porém, Deus, em sua infinita sabedoria, quis instruir os pastores sobre um dos mais altos mistérios da Fé, enviando-lhes o Anjo e fazendo-lhes ver sua Glória.
Com efeito, pelo Anjo, os pastores souberam do nascimento de Cristo, o Senhor. É um anúncio sem dúvida messiânico, mas contém uma admirável e surpreendente novidade, o Messias é também o Senhor, ou seja Deus. Revelação tão alta precisava ser selada por meio de um sinal. Eis o papel da manifestação da Glória do Senhor, a indicar-lhes uma nova forma de presença de Deus entre os homens, para salvá-los dos seus pecados.
Mas terão compreendido essa mensagem os pastores? Certamente, “ao escutar as palavras do mensageiro tiveram uma experiência mística sobre a Pessoa do Menino Jesus” (vol III, p. 102), contudo não sabemos se explicitaram tanto quanto lhes era possível o inexaurível mistério. Entretanto, chegando a Belém – onde dirigiram-se às pressas movidos pela graça – depois de contemplarem aquele belíssimo Menino envolto em faixas e deitado numa manjedoura, os pastores tiveram tempo de conversar com Maria e José, e, portanto, de ouvir das testemunhas mais privilegiadas, a narração da Encarnação do Filho do Altíssimo. São Lucas é preciso neste particular e sublinha que ao retornarem à casa davam glória a Deus por tudo o que viram e ouviram. Viram quem? O Menino Deus, sua Mãe virgem e o castíssimo José. E, o que ouviram? Seguramente o Evangelho de Jesus Cristo pelos lábios de Maria e José. Ambos, com grande ternura e luxo de detalhes, devem ter-lhes instruído sobre o grande acontecimento anunciado por São Gabriel, que se cumpria em Belém, diante dos olhos extasiados daqueles homens.
Sim, estavam diante de um bebê, mas esse pequenino era Deus! E se seus lábios não o confessavam ainda, contemplando seu olhar, a luz do seu rosto, o encanto de sua inocência, se confirmava um mistério tão alto e tão acessível ao mesmo tempo.
Quem diria, oh santos pastores, que aquela noite surgiria para vós um novo astro no firmamento? Sim, no coração da noite, nasceu para vós o Sol imperecível da justiça e da verdade, sempre luzidio na alma com fé. Rezai por nós, santos pastores. Queremos ser também contemplativos do mais belo mistério de amor de Deus para os homens. Também nós possamos como vós, ver e ouvir as maravilhas da salvação e voltar ao nosso apostolado, aos nossos afazeres, glorificando e louvando a Deus. Queremos ser evangelizadores como vós: “Os pastores, ao manifestarem seu contentamento, tornaram-se verdadeiros apóstolos de Jesus. Desejavam que os outros participassem de seu júbilo para que eles se abrissem à Boa-nova” (vol III, p. 105).
Pe. Carlos Javier Werner Benjumea, EP