Redação (25/01/2015, Virgo Flos Carmeli) “Olhai os lírios do campo, como crescem; eles não tecem e nem fiam. Contudo, digo-vos: nem Salomão em toda a sua glória jamais se vestiu como um deles” (Lc 12, 27). Realmente, Deus colocou na obra da criação maravilhas impossíveis de serem copiadas. Seja diante da grandeza do mar, da fúria de um furacão ou da delicadeza de um beija-flor; seja em face do mistério das selvas, do encanto dos bosques ou da majestade dos montes, nos sentimos ao mesmo tempo pequenos e elevados. Pequenos, pois em relação a tudo isso temos um domínio tão limitado que leva muitos homens a tomar a natureza por deus. Elevados, porque sabemos, pela fé, que tudo isso nos foi submetido pelo Senhor, com o fim de Lhe darmos a glória de um bom uso. Porém, ainda que nos sintamos rebaixados diante da força de um leão ou admirados com o vôo de uma águia, podemos estar certos de que aos olhos de Deus temos um valor incomparavelmente maior, máxime quando cumprimos nossa vocação específica.
O afeto e a proteção de uma mãe virtuosa valem muito mais do que o zelo instintivo que a leoa tem por seus filhotes, pois são regados com o bálsamo da caridade; as orações de um religioso têm muito mais vôo e penetração que as águias as quais podem fitar o astro-rei, incapazes, porém, de vislumbrar o Sol da Justiça; as palavras de um santo pregador são mais fortes e eficazes que qualquer trovoada, pois gozam da força e da eficácia do próprio Deus.
Contudo, essas criaturas todas representam vestígios de Deus, os quais não podem deixar de ser contemplados, ainda quando estejam incompletos… “Mas incompletos?!”
Sim! Há certas paisagens naturais que parecem não ter sido completadas pelo Divino Escultor. É o que se passa com o Fuji-yama.
Situado no centro da ilha de Honshu, no coração do arquipélago japonês, o Fuji-san – como também é conhecido – é admirado não só pelo povo nipônico, mas pelo mundo inteiro.
Com seus mais de 3.000 m de altitude, une em si a austeridade com a singeleza. Sendo um vulcão adormecido desde o começo do séc. XVIII (1707), o monte Fuji tem a sua parte superior coberta de uma neve que proporciona um verdadeiro espetáculo digno de se contemplar. Porém, ao vê-lo durante certo tempo vem-nos a pergunta: onde está o “cone do Fuji-yama”?
Ensina-nos a teologia que só três criaturas Deus criou na sua perfeição plena: Nosso Senhor Jesus Cristo enquanto homem, Nossa Senhora, e a Visão Beatífica. Assim sendo, em todas as coisas que analisarmos nesta terra de exílio, veremos que falta algo. Ainda que seja a mais bela e preciosa pedra ou a mais perfeita e delicada flor, em algum ponto, lhe falta o que poderíamos chamar de o “cone do Fuji-yama” de cada coisa.
Contudo, essas imperfeições das criaturas nos trazem um ensinamento: ver em tudo, não o lado defeituoso ou falho, mas a perfeição que aquela criatura de Deus poderia ter, ou seja, ver o “cone do Fuji-yama” dela.
Como o mundo seria diferente se os homens vivessem assim! Um mundo no qual todos olham uns para os outros a perfeição que Deus pôs em cada alma de maneira particular.
Enfim, o Fuji-yama nos inspira pedir, por meio de Nossa Senhora, o triunfo do verdadeiro e perfeito “cone do Fuji-yama” de tudo: a Santa Igreja Católica, Apostólica, Romana, cuja indestrutibilidade foi firmada pelo próprio Deus quando disse: “e as portas do inferno não prevalecerão contra Ela!” (Mt 16, 18).
Rodrigo Fugiyama Nunes