Redação (19/11/2010, Virgo Flos Carmeli) Nas escolas as crianças comumente fazem experiências científicas auxiliadas pelos professores. Desta forma, vão se introduzindo nas diversas áreas do conhecimento e complementando seu currículo. Essas experiências além de servirem como avaliação para a aprendizagem, também são momentos de expectativa para os jovens que ainda estão iniciando seu contato com o mundo.
Uma dessas experiências fascinantes é a de plantar uma semente para observá-la germinar. Este pequeno grão, aparentemente morto na mão de uma pessoa, quando é plantado e devidamente regado, produz o “milagre da vida”. A criança esperançosa de que sua sementinha brote, enche-se de contentamento quando vê aquele brotinho que desponta à superfície. E de alguma forma se sente partícipe do poder criador de Deus.
Para as pessoas conhecedoras da arte do plantio, basta ter em mãos um desses grãos para saber a que espécie pertence, qual árvore brotará de seu cultivo e quais frutos produzirão. No entanto, nem todos são especialistas na matéria, portanto, não conseguem diferenciá-los.
Para estes últimos, somente o cultivo da semente é que mostrará sua espécie.
Quando se vê uma árvore frondosa, nos espantamos com o tamanho e a firmeza que transparecem de seu aspecto, mas podemos nos esquecer que tudo isso veio de uma sementinha que é propulsora desta obra. Porém, isto não é nenhuma novidade para quem tem uma cultura agrícola. Aqueles que lidam com a plantação, conhecem bem o lucro que se pode tirar de uma colheita e quanto pode produzir uma única semente.
E como não poderia ser diferente, a cultura de um povo está ligada com seus afazeres. Aqueles que vivem em meio à produção agrícola costumam comunicar-se com o linguajar próprio à sua função. Foi em um ambiente orgânico como este que há dois mil anos Jesus Cristo, o Filho de Deus, revelou-se aos homens. Para se fazer entender pelos seus ouvintes, utilizou-se de uma forma de expressão conhecida como parábola (do grego parabolé, literalmente “comparação”, “jogar ao lado de”). Essas narrações de Jesus continham, através de exemplos corriqueiros, ensinamentos admiráveis.
Esta maneira de ensinar era comum na época, mas Jesus se diferenciava dos rabinos, porque Ele queria transformar seus ouvintes, enquanto estes últimos utilizavam a parábola apenas para a interpretação da lei. Falava-se alegoricamente de uma situação semelhante à vida real para que os interlocutores interpretassem a mensagem. Muitas vezes podia se tornar um teste de sabedoria.
Entre os exemplos utilizados pelo Divino Mestre, encontra-se a comparação da pequena semente de mostarda com a fé que os discípulos deveriam possuir: “Os apóstolos disseram ao Senhor: Aumenta-nos a fé! Disse o Senhor: Se tiverdes fé como um grão de mostarda, direis a esta amoreira: Arranca-te e transplanta-te no mar, e ela vos obedecerá” (Lc 17,5-6).
Os apóstolos viam a necessidade de aumentar sua fé, pois à medida que Jesus ia lhes revelando o que deveriam fazer, percebiam sua incapacidade de realizá-lo. Por isso, o Mestre “faz menção da mostarda, porque sua semente, ainda quando é pequena, é a mais fecunda de todas. Dá a conhecer, portanto, que um pouco de sua fé pode muito”.1
Em outra ocasião, para mostrar a expansão do Reino que Ele veio trazer, Jesus utiliza-se novamente desta sementinha: “Em seguida, propôs-lhes outra parábola: O Reino dos céus é comparado a um grão de mostarda que um homem toma e semeia em seu campo. É esta a menor de todas as sementes, mas, quando cresce, torna-se um arbusto maior que todas as hortaliças, de sorte que os pássaros vêm aninhar-se em seus ramos” (Mt 13,31.32).
Nosso Senhor se refere aqui ao trabalho que os apóstolos iriam realizar a fim de anunciar o Reino de Cristo: “Quis o Senhor com isto dar uma prova de sua grandeza, pois assim exatamente – disse – sucederá com o anúncio do reino de Deus. Em verdade, os discípulos do Senhor eram os mais débeis, os menores entre os homens; mas como havia neles uma grande força, esta se soltou e se difundiu”.2 E em sua sombra – a Igreja – muitos pássaros virão abrigar-se. Nesta parábola, os pássaros representam os povos que aceitarão a pregação dos apóstolos e entrarão no Reino de Deus.
Mesmo empregando esta linguagem conhecida na época, muitas vezes, os discípulos Lhe pediam que explicasse a parábola pronunciada, e isto era feito, pois no futuro eles seriam os grandes propagadores deste Reino e fiéis depositários destes dons recebidos do próprio Deus.
Que pelo menos tenhamos a fé do tamanho de uma semente de mostarda, para que a Igreja, através de seus sacramentos, possa regá-la e protegê-la, fazendo-a crescer e frutificar na caridade tanto nesta vida quanto na eternidade.
Thiago de Oliveira Geraldo
Professor de Introdução à Sagrada Escritura (ITTA)
In: Gaudium Press
1 – SAN JUAN CRISÓSTOMO. Apud SANTO TOMÁS DE AQUINO. Catena Aurea.Vol. IV – San Lucas. Buenos Aires: Cultura Católica, 1946. p. 402.
2 – SAN JUAN CRISÓSTOMO. Homilías sobre el Ev. De Mateo, 46, 2. Apud SIMONETTI, Manlio. La Biblia Comentada por los Padres de la Iglesia: Evangelio según San Mateo (1-13). Madrid: Ciudad Nueva, 2004. p. 367.