Redação (28/04/2010, Virgo Flos Carmeli) Imagine caro leitor, que sentado em seu escritório de trabalho, manuseando seu computador, você termina um trabalho importante. De repente, todas as luzes da firma se apagam, inclusive a do monitor que você usa. Situação corriqueira em dias de chuva. Porém, não chove lá fora, e um raio de luz ilumina precariamente o ambiente. Para continuar o serviço, você tenta ligar o computador, mas não obtém sucesso. O computador não responde nem com as baterias. Terá queimado o disco rígido? Fato, estranho, pois não se ouviu nenhum trovão.
Você se levanta da mesa, e averigua que, realmente, todo o prédio, ou melhor, o bairro inteiro está em blackout. Tudo, comum até então. Quando você sai da sala, seus companheiros de serviço conversam contentes, devido ao intervalo forçado pelo apagão. O tempo corre e averiguam que nenhum carro funciona. A cidade inteira está parada. Alguém, logo percebe que todos os circuitos eletrônicos não funcionam, nem mesmo os celulares. O gerente dispensa do serviço, mas, os elevadores do prédio também não funcionam. Você desce os dez andares do edifício pelas escadas até ao estacionamento, na esperança de que pelo menos o seu carro funcione. Nada. Nem mesmo você consegue entrar nele, pois, as travas elétricas, estão impassíveis ao insistente e repetido apertar nos botões do controle remoto.
Você sai até a rua e percebe o desalento de todos, pois a cidade está em um verdadeiro caos. Uns já se dirigem às suas residências, a pé, pois, como alguém disse, o metrô está parado. O único motor que funciona é de um carro velho, um fusquinha de 85, que não possui nada de eletrônico, porém, o motorista do está desalentado, pois seu carro está preso no congestionamento e nada pode fazer.
Ao seu lado alguém olha para o céu, e quando você contempla a abóbada celeste, vê luzes como das auroras boreais. Lilases, verdes e azuis lindíssimos.
– O que está acontecendo? Será o fim do mundo?
– Não! – responde um conhecido seu que acrescenta – É uma tormenta solar…
– “Mas, o que é uma tormenta solar?”
Seu amigo logo lhe explica: – Antigamente, os cientistas julgavam que as tormentas solares eram uma espécie de tempestade de calor na coroa solar, que forma um vento com ondas magnéticas que chegam à terra desorganizando o seu campo magnético. Entretanto, a última tempestade solar de 2006 deixou os cientistas atônitos, pois provinha de uma explosão interna do sol, quebrando todos os paradigmas de estudo neste campo. A história relata tempestades solares em nosso planeta, das quais as de 1859, 1989, 2005 e 2006 têm uma especial relevância.
Em 1859, registraram auroras boreais em diversos pontos do planeta, especialmente na Europa, Austrália, Japão, EUA e México. O sistema de telégrafo entrou em pane. Fato curioso é que dois operadores constataram que podiam manter a conversação telegráfica, apesar de os aparelhos estarem desligados da bateria. A linha estava eletrificada. Não se sabia a causa do acontecimento, mas os astrônomos logo responderam que era uma tormenta solar, a mais forte registrada na História.
Em 1989, uma tormenta solar chegou à terra incidindo mais fortemente no Canadá, onde os computadores da Bolsa de Valores de Toronto pararam, interrompendo o pregão. Houve um blackout de 9 horas na província do Quebec, por uma sobrecarga na rede elétrica e mais de 6 mil satélites saíram de suas órbitas, pois a tormenta solar aqueceu a atmosfera, dilatando-a e absorvendo alguns satélites de baixa altitude.
Este vento que viaja a milhares de km por segundo chega à terra em cerca de 2 horas, porém, a tempestade de 2005 chegou ao nosso planeta em 15 minutos. Ora, esta nuvem, carregada de prótons e elétrons, altera o campo magnético da terra
A próxima tempestade foi prevista para 2012-2013, segundo Mausumi Dikpati, do Centro Nacional de Pesquisa Atmosférica (NCAR) e coincide com o auge do ciclo solar (que dura 11 anos), sendo, portanto, uma tormenta solar mais forte que a última de 1989 e 2006 (que estava no vórtice do ciclo solar), embora não tão abrangente quanto a de 1859. Entretanto, apesar de menos forte que a de 1859, a tempestade solar de 2012-2013, terá efeitos maiores em nossa sociedade, extremamente dependente da informática.
A tormenta solar afetará os chips de computadores, a internet, o sistema GPS, a navegação e funcionamento de aviões e navios, sistemas eletrônicos de carros, elevadores e alarmes. A rede elétrica poderá ser cortada por causa da sobrecarga, pois estas ondas induzem corrente elétrica nas linhas de abastecimento de energia. O problema é que os cientistas não podem prever quanto tempo permanecerá os efeitos desta explosão solar. Se durar uma dezena de horas causará poucos danos, porém se durar dias, o mundo atual, hiper-informatizado pode entrar em um verdadeiro caos…
O indício inegável da tempestade é que as manchas solares desapareceram. Foi o que aconteceu em 2006 e o que está acontecendo em 2010.
Em janeiro de 2005, uma surpreendente tempestade solar alcançou a Terra com sua máxima radiação 15 minutos após as explosões. Normalmente elas demorariam 2 horas para chegar. Segundo Richard Mewaldt, do Califórnia Institute of Technology, foi a mais violenta e mais misteriosa tempestade dos últimos 50 anos. Os astrônomos ficaram perplexos. O professor Lin – principal pesquisador do satélite Reuven Ramaty High Energy Solar Spectroscopic Imager (RHESSI) – assim resumiu as conclusões dos estudos que fez nesta ocasião: “Isso significa que realmente não sabemos como o Sol funciona”. Quebraram-se todos os paradigmas de estudo no campo, porém, este enorme vento não atingiu a terra de forma tão direta como em 1989 e 1959. Acontecerá o mesmo em 2012-2013? É uma pergunta que os cientistas ainda não podem responder.
Uma vez que a ciência hesita, recorramos por ora à Teologia. Ensina a Doutrina Sagrada que todos os astros do universo, inclusive o sol, são governados por um Anjo. Portanto, o astro-rei, que governa todo o sistema solar, e tem efeitos tão benéficos sobre nosso planeta, é regido por um Anjo de Deus.[1] Os anjos exercem poder sobre as coisas materiais. Um único Anjo pode agir sucessivamente em um rio da África ou em iceberg da Antártida. Essas ações ou essas influências são sucessivas e não simultâneas.
Baseado em Santo Agostinho e Orígenes, São Tomás de Aquino ensina que os Anjos não somente governam (como rectores) sobre os astros celestes, mas também sobre as feras, fontes, rios, mares, montanhas, etc. Os Anjos são governadores por essência, e dominam toda a ordem do universo. Toda a fascinante natureza que nos cerca é regida pelos espíritos Angélicos. Doutor Plinio Corrêa de Oliveira observa que esta é uma das razões pelas quais os pagãos acreditavam que havia deuses nas rochas, árvores e fontes, pois, herdaram esta tradição de seus pais, sendo uma crença que se remonta aos primórdios da humanidade.
Os espíritos podem fazer prodígios, servindo‑se das forças da natureza, mas não podem fazer milagres, pois, como ensina São Tomás e outros autores, o milagre supera a ordem natural.[2] Pois, de fato, os cientistas estão encontrando verdadeiras maravilhas no estudo das tormentas solares no astro-rei. Não poderão ser causadas pelos Anjos?
Este fenômeno, do qual os cientistas registram com belíssimas fotografias, revelam maravilhas do Sol até então desconhecidas para o homem. Não somente demonstram a beleza do universo, e a grandeza da natureza criada por Deus, mas também a contingência do homem. O ser humano apesar de “dominar”e “reinar” sobre a natureza, seguindo o mandato do Gênesis (Cf. Gn 1, 26), está sujeito às Leis do Universo, que é regido pelos Anjos de Deus.
Sabemos que os Anjos são ordenados, e velam pela glória de Deus e pelo bem do Homem. Se o Sol vem demonstrando esses fenômenos, a hora é oportuna para reconhecer essa grande superioridade e rezar aos Anjos que protejam nosso planeta. Ainda mais, nesta sociedade atual erigida em um sistema tão passível às mudanças do campo magnético.
Por mim, opto por colocar mais esperanças nos anjos, do que no estupendo maquinário eletrônico que nos rodeia. Os primeiros, simplesmente, não estão sujeitos a blackout…
Marcos Inácio Melo – 2º ano Teologia
[1] S. Th. 1, q. 110, resp. “Et ideo sicut inferiores angeli, qui habent formas minus universales, reguntur per superiores; ita omnia corporalia reguntur per angelos et hoc non solum a sanctis doctoribus ponitur, sed etiam ab omnibus philosophis qui incorporeas substantias posuerunt”.
S. Th. 1, q. 110, ad. 3: “Dicit enim Augustinus, in libro octoginta trium quaest., unaquaeque res visibilis in hoc mundo habet angelicam potestatem sibi praepositam. Et Damascenus dicit, diabolus erat ex iis angelicis virtutibus quae praeerant terrestri ordini. Et Origenes dicit, super illud Num. XXII, cum vidisset asina angelum, quod opus est mundo angelis, qui praesunt super bestias, et praesunt animalium nativitati, et virgultorum et plantationum et ceterarum rerum incrementis. Sed hoc non est ponendum propter hoc, quod secundum suam naturam unus angelus magis se habeat ad praesidendum animalibus quam plantis, quia quilibet angelus, etiam minimus, habet altiorem virtutem et universaliorem quam aliquod genus corporalium. Sed est ex ordine divinae Sapientiae, quae diversis rebus diversos rectores praeposuit. Nec tamen propter hoc sequitur quod sint plures ordines angelorum quam novem, quia, sicut supra dictum est, ordines distinguuntur secundum generalia officia. Unde sicut, secundum Gregorium, ad ordinem potestatum pertinent omnes angeli qui habent proprie praesidentiam super daemones; ita ad ordinem virtutum pertinere videntur omnes angeli qui habent praesidentiam super res pure corporeas; horum enim ministerio interdum etiam miracula fiunt”.
[2] VONIER, Anscar. Les Anges. Paris: Spes, 1950