As orquídeas e a santidade

Um jardim belo e atraente está composto de uma variedade de flores com suas cores e formas que encanta quem o contempla. Isto se nota, sobretudo, quando a exuberância de plantas constitui uma unidade, agradável de admirar.

Redação (14/09/2010, Virgo Flos Carmeli) Exalando perfume, beleza e suavidade nas copas de altas árvores, na iluminada e agreste selva tropical, as orquídeas florescem encantando a todos os povos da terra. De fato, a maioria das espécies nasce nas florestas quentes onde elas possuem o mais propício habitat natural. Entretanto, podem brotar nos prados secos ou úmidos, nas sombrias matas temperadas; em relvados, mangais, dunas e rochas e, até no subsolo.

As orquídeas mais conhecidas possuem entre 10 a 20 cm, contudo, já se encontraram espécies com mais de 4 metros de comprimento; ou ainda, do tamanho de uma cabeça de alfinete. A variedade das orquídeas é impressionante, cerca 35.000 espécies nascem em todas as latitudes do planeta. Do círculo polar ártico ao mais tórrido clima tropical; nas escarpadas montanhas a 4.000 metros de altitude e em amenas planícies. É considerada a maior família de angiospermas, daí o especial interesse que desperta no mundo científico o estudo das orquídeas, por ser um “grupo único e altamente desenvolvido”.1

Esta variedade está aumentando, tanto naturalmente quanto por manipulação humana. É um gênero muito dócil à fecundação entre tipos diferentes somando cerca de 25.000 espécies híbridas. Nesta imensa variedade de orquídeas, existe uma unidade, por causa de uma “idêntica estrutura floral”.2 Das menores às maiores, todas são da mesma espécie, possuindo três pétalas e três sépalas conhecidas respectivamente como vertilícios internos e externos. Uma das pétalas é mais desenvolvida, maior e mais vistosa: chama-se labelo.

Não são apenas os cientistas que se encantam com as orquídeas. Desde a antiguidade eram admiradas pelas damas, cantadas pelos poetas e pintadas pelos artistas por sua textura delicada, forma extraordinária e caráter dramático. Acredita-se que Teofrasto (372-287 a.C.), pupilo de Aristóteles e um dos primeiros botânicos do ocidente, foi o primeiro a batizá-las com o vocábulo orchis, do grego primitivo orchos (círculo ou esférico) por causa do formato oval das raízes de algumas espécies mediterrâneas. Os antigos orientais extraíam seu perfume e nos herbários astecas, eram usadas como especiaria e loção para a saúde.

Algumas são exóticas por suas exuberantes formas e combinação de tons; outras são discretas de um colorido comum, mas nem por isso, menos belas. Há orquídeas sóbrias e solenes, também existem aquelas de aparência jocosa, como a Orchis Símia, uma espécie européia que lembra a pitoresca forma de macacos. Outras têm um colorido selvagem que fazem lembrar a pele de tigres asiáticos. Contudo, a maioria atrai os olhos admirativos pela sua amenidade, harmonia e beleza. Assim é a Barkeria, originária da Guatemala, de uma linda cor paunassa. Já a Primavera por causa de seu amarelo vivo é conhecida como chuva de ouro. A Potinaro, a rainha das orquídeas, é de uma beleza indescritível digna de ornar os altares de uma Catedral.

As flores das orquídeas são o seu mais valioso produto. Florir, encantando os povos é a sua finalidade. Por esta beleza incomum e tão variável, este mundo botânico é um belo e atraente exemplo de unidade na variedade.

As criaturas visíveis refletem certas características do mundo espiritual. A variedade das orquídeas torna-se um símbolo das almas criadas por Deus. Embora todos os homens tenham a mesma dignidade, as mesmas características que constituem a natureza humana, todos são, no entanto, diferentes. Cada ser humano criado a imagem e semelhança de Deus reflete um aspecto diferente da beleza do Criador.

É imagem, sobretudo, em sua alma, nas potências espirituais, inteligência e vontade.3 Por esta razão a natureza humana se aproxima mais ao criador que os seres irracionais. Em cada alma reluz de modo especial um aspecto de Deus; por isso, o universo das almas é mais numeroso, rico e belo que a família das orquídeas.

Nem todas as almas completam sua finalidade nesta vida, ou produzem a flor que coroa sua existência. O homem só realiza a plenitude de seu esplendor quando através da graça atinge a santidade. É o que se dá com os santos, as verdadeiras flores do mundo espiritual.

Certo dia, Nosso Senhor disse à Santa Catarina de Sena que “se víssemos uma alma em estado de graça teríamos a inclinação de adorá-la como Deus”.4 Se essa é a beleza da alma de um santo, o que se dirá da imensa variedade de Santos e Santas que floresceram no jardim da Igreja.

Assim como as orquídeas, há santos de todos os feitios. Um São Felipe Neri, simpático e jocoso, ou ainda, o asceta e solitário Santo Antão. Santos célebres de uma força de atração impressionante, como Santa Teresinha, ou santos desconhecidos, heróis em virtude, mas discretos. Houve um São Luís, Rei de França e uma Santa Isabel, Rainha de Portugal; também São Cízio, advogado; Beato Angélico, artista; Santa Bakhita, doméstica, e etc. Enfim, santos de todas as idades, classes sociais e estados de vida, de todas as latitudes e povos da terra.

Nada mais diferente e ao mesmo tempo tão semelhante quanto dois santos. A Igreja os canoniza formando um grande jardim de modelos, para estimular os fiéis alcançarem a santidade. A santidade é possível em qualquer recanto do planeta. Como no mundo das orquídeas, também no universo das almas santas existe um ponto de união nesta imensa diversidade. A santidade é o que torna afins almas tão diferentes, de temperamentos tão múltiplos, numa variedade e harmonia, ao mesmo tempo numa dignidade e simplicidade mais intensa que a família das flores.

Assim, as orquídeas ilustram com beleza e suavidade a síntese perfeita de unidade na variedade das almas santas.

Marcos Eduardo Melo dos Santos – 2º ano de Teologia


1 KRAMER, Jack. Orquídeas. Rio de Janeiro: Salamandre, 1987. p. 13.FLOYD, Suhleworth. Orquídeas. Rio de Janeiro: Expressão e Cultura, 1970. p. 14.

2 FLOYD, Suhleworth. Orquídeas. Rio de Janeiro: Expressão e Cultura, 1970. p. 14.

3 Cf. S.Th. I, q. 3, a. 1.

4 SENA, Catarina de. Apud LIGÓRIO, Afonso de. Preparação para Morte. Lisboa: L.C. Castro, 2004. p. 198.