Redação (16/11/2014, Virgo Flos Carmeli) Existe uma relação entre a ciência, a metafísica e a teologia? Embora muitas correntes filosóficas o tenham negado ao longo da história, a íntima afinidade entre as três disciplinas pode ser ilustrada pelo seguinte episódio extraído das Sagradas Escrituras: uma noite, enquanto descansava de sua viagem rumo a Padã-Arã, Jacó teve um sonho no qual “via uma escada, que, apoiando-se na terra, tocava com o cimo o céu; e anjos de Deus subiam e desciam pela escada. No alto estava o Senhor” (Gn 28,12). Na verdade, os conhecimentos científicos, metafísicos e teológicos formam uma só escada que, apoiada na terra, conduz até as alturas do céu onde se encontra Deus.
O motivo pelo qual a base está sobre a terra deve-se a que o primeiro degrau do conhecimento humano é empírico, pois parte dos objetos sensíveis uma vez que não há nada no intelecto que não tenha passado antes pelos sentidos. E a ciência, precisamente, oferece os métodos convenientes para a aquisição e organização dos conhecimentos da estrutura da realidade objetiva, comum e acessível a todos os observadores. Porém, de acordo com o discurso de Bento XVI aos participantes da assembléia plenária da Pontifícia Academia das Ciências, realizado no dia 6 de novembro de 2006, “embora dê com generosidade, a ciência só oferece aquilo que deve dar. O homem não pode depositar na ciência e na tecnologia uma confiança tão radical e incondicional, a ponto de acreditar que o progresso científico e tecnológico consegue explicar tudo e suprir completamente todas as suas necessidades existenciais e espirituais”.
Conseqüentemente, a ciência não pode ter a ambição de responder todos os interrogantes, mas unicamente as perguntas pertencentes à realidade física. Por conseguinte, assim acrescentou o Santo Padre: “a ciência não pode substituir a filosofia e a revelação”. Logo, o homem deve subir um degrau na escada e entrar na metafísica, a qual o ajudará a encontrar os fundamentos e princípios últimos do ser e do existente.
Entretanto, não é sem razão que a metafísica está num degrau intermediário entre a ciência e a teologia, unindo as duas. Isto por dois motivos: primeiramente, porque ela é, de fato, uma ciência, pois é a partir da unificação dos resultados das ciências particulares que configurará uma imagem metafísica do mundo, dos primeiros princípios e dos problemas centrais e mais profundos da filosofia; em segundo lugar, porque um dos seus ramos é a teodicéia ou teologia natural, pois é na procura da causa primeira de todo ser que a metafísica encontra a Deus, Ser supremo e fundamento de toda realidade.
Contudo, embora a metafísica também dê com muita generosidade, para atingir um conhecimento firme e seguro das verdades celestes e do próprio Deus é necessário subir mais um degrau da escada e entrar na teologia.
Com efeito, é inegável que “mal podemos compreender o que está sobre a terra, e dificilmente encontramos o que temos ao alcance da mão; quem, portanto, pode descobrir o que se passa no céu?” (Sb 9,16). Só a teologia que possui como mestra da verdade a Revelação, a qual, por ter sido inspirada pelo Espírito Santo, ensina com certeza, fielmente, e sem erro a verdade que Deus nos deu para a nossa salvação. Mais ainda: a principal fonte da teologia é a Sagrada Escritura, que pode ser considerada como a sua alma, pois é impossível uma verdadeira teologia sem adequado fundamento bíblico. E de tal maneira os autores das Sagradas Escrituras foram influenciados pela operação do Espírito Santo que, conforme nos ensina o Concílio Vaticano I, “a Igreja tem esses livros como sagrados… porque eles têm Deus por autor”.
Assim sendo, procuremos subir sem pretensão a escada que apoiada na terra, aperfeiçoada pela ciência, aprofundada pela metafísica, e guiada pela teologia toca com o cimo o céu, onde no alto se encontra o trono majestoso do nosso Criador. Não obstante, tenhamos muito presente que aquilo que nos aguarda – com o auxílio da divina graça – será muito superior ao que possamos conhecer nesta vida, pois “os olhos não viram, nem os ouvidos ouviram, nem o coração humano imaginou, tais são os bens que Deus tem preparado para aqueles que o amam” (1Cor 2,9).
Pe. Rodrigo Alonso Solera Lacayo, E.P.