Redação (04/03/2012, Virgo Flos Carmeli) Corria o ano de 1879. O bom pároco da igrejinha da vila de Cap-de-la-Madeleine, em Quebec, Canadá, achava-se diante de um sério problema: o inverno tinha sido demasiadamente ameno…
Os que já experimentaram a intensidade do inverno na América do Norte, com seus ventos cortantes, nevadas colossais e temperaturas de gelar os ossos, por certo achariam estranho, ver o pároco todo posto em oração, não para agradecer uma estação tão suave, mas para implorar à Santíssima Virgem com ardor, frio, muito frio…
Nossa Senhora, como verdadeira mãe, compreendeu o que ele queria e o atendeu generosamente. E essa é a nossa história, na qual poderemos venerar a solicitude e o zelo com que Maria guia seus filhos para a glória de Cristo Nosso Senhor.
Quando o Pe. Desilets recebeu, em 1864, uma igreja pequenina nessa província francófona, encontrou uma paróquia em crise.
Por ter ficado muito tempo sem pároco, recebendo apenas a visita de padres viajantes que ministravam os sacramentos em numerosas igrejas daquele vasto território, muitos fiéis tornaram-se indiferentes à sua fé Católica. A capelinha, apesar de tão pequena, era ampla demais para o reduzido número de fiéis que ainda freqüentavam as Missas.
Nessa lamentável situação, o novo pároco se dirigiu à Santíssima Virgem, sob a invocação de Nossa Senhora do Rosário. Zelosamente encorajava os seus paroquianos a rezarem o terço com piedade. Pregava a beleza e eficácia desta oração tão amada por Maria e consagrou a Ela a comunidade.
Os resultados aos poucos se fizeram sentir! A graça foi operando prodígios nas almas, e o sacerdote, passados 15 anos desde que chegara àquele local, viu-se diante de um sério e agradável problema: ter de construir uma igreja bem maior.
Em combinação com seus paroquianos, decidiu dar início ao projeto no inverno, quando o largo rio São Lourenço, que passava perto da igreja, se congela e sua superfície se transforma numa firme estrada de gelo, por onde podem passar os cavalos e trenós, carregando as pedras e outros materiais necessários para a construção; processo muito mais econômico do que o transporte em barcos.
Chegado o mês de novembro, o Pe. Desilets e seus paroquianos começaram a rezar pela rápida formação do gelo. Porém, um inverno inesperadamente ameno nos meses de dezembro, janeiro e fevereiro foi adiando a realização do plano. O bom pároco, redobrando seu fervor, prometeu a Nossa Senhora que, se Ela obtivesse uma ponte de gelo, ele não só construiria uma nova igreja, mas preservaria a anterior e a dedicaria à sua honra, sob o título de Nossa Senhora do Rosário.
Chegou o mês de março e começaram as chuvas. Os paroquianos, com bom senso e pouca fé, sugeriram ao pároco que esperasse até o inverno seguinte.
Mas o sacerdote continuou rezando, cheio de confiança em Maria, argumentando que, se não construísse a igreja naquele ano, muitas Missas não seriam celebradas e, conseqüentemente, muitos pecados a mais talvez fossem cometidos.
A primavera já se aproximava, mas, curiosamente, ou quiçá miraculosamente, a temperatura de repente começou a cair. A festa de São José, padroeiro e protetor do Canadá, se aproximava. O padre coadjutor anunciou que haveria uma Missa solene no dia 19 de março em honra do casto esposo da Santíssima Virgem, na qual se pediria, por sua intercessão, a formação da ponte de gelo.
Após a Missa, juntamente com alguns paroquianos, o sacerdote foi examinar como estava o rio. Qual não foi a surpresa de todos, quando viram que o forte vento do dia anterior havia trazido grandes blocos de gelo, que se encaixaram perfeitamente de modo a formar uma ponte. Cheios de alegria, correram de volta para contar o ocorrido ao Pe. Desilets e a todo o povo.
Com redobrada energia, a comunidade inteira pôs mãos à obra, aproveitando essa maravilha operada por Deus. O pároco, que havia rezado inúmeros terços pela obtenção do milagre, infelizmente não pôde estar junto a seus paroquianos, devido a uma súbita enfermidade, mas escreveu uma carta encorajando os fiéis, que lhes foi lida pelo padre coadjutor: “Vossas orações perseverantes estão sendo agora atendidas. Contra toda a expectativa, temos agora uma ponte pela qual podemos passar carregando as pedras para a nossa igreja. Vejam o poder da oração…”
O trabalho começou na própria festa de São José e continuou por alguns dias. Em uma só jornada, passaram 175 trenós cheios de pedras pela “Ponte do Rosário” (popularmente assim chamada a ponte de gelo). Todos se dedicavam ao labor sem interrupção. “Era extraordinário, um verdadeiro milagre! Algo verdadeiramente impossível!” — relatou um dos presentes, anos depois.
O pároco convocou todas as mulheres e crianças para recitarem o terço, enquanto o projeto se transformava em realidade, e ele mesmo era visto muitas vezes, de terço na mão, rezando diante de uma imagem de Nossa Senhora, dentro da igreja. Os homens costumavam rezar inúmeras “Ave-Marias” enquanto trabalhavam.
Por fim, no preciso momento em que se completou a quantidade de pedras necessárias para a construção da nova igreja, a ponte começou a se desfazer. Então, a ação sobrenatural tornou-se evidente.
Na festa do Santo Rosário do ano seguinte, a nova igreja foi inaugurada e a velha igrejinha anterior passou a ser conhecida como capela do Santo Rosário, tornando-se rapidamente um local de peregrinação.
Contudo, o Pe. Desilets ansiava por mais um sinal do Céu, que confirmasse estarem seus anseios de acordo com os desejos de Nossa Senhora.
No dia da dedicação oficial da capela em louvor a Maria, o sacerdote estava rezando diante da imagem de Nossa Senhora do Rosário, quando algo extraordinário aconteceu. O fato, presenciado por várias pessoas, foi assim descrito por uma das testemunhas: “A imagem da Virgem, cujos olhos estão voltados para baixo, repentinamente os levantou e permaneceu longo tempo com eles totalmente abertos. O olhar da Virgem era firme e voltado para frente. Não poderia ser uma ilusão, pois a face d’Ela estava inteiramente iluminada, devido aos brilhantes raios do sol que entravam pelas janelas, os quais, aliás, iluminavam o santuário todo. Os olhos bem formados eram negros e em admirável harmonia com as feições da sua face.”
Estava concedido o sinal! Nossa Senhora assim mostrava a seus filhos canadenses e aos do mundo inteiro, que Ela não só atende os pedidos feitos através de recitação do Rosário, mas também acompanha, com um vivo olhar maternal, aqueles que a Ela recorrem com confiança.
Cap-de-la-Madeleine tornou-se o Santuário Nacional do Canadá, tonificando dessa forma a devoção a Nossa Senhora do Rosário, magnífica invocação d’Aquela que sempre será a medianeira universal de todos os fiéis católicos.