Redação (21/09/2013, Virgo Flos Carmeli) Sobre o que conversam os Anjos? Evidentemente, o principal objeto da conversa angélica é Deus, pois toda criatura tende naturalmente a voltar-se para o Criador, sobretudo em se tratando de criaturas tão perfeitas como são os Anjos, a além do mais estando eles na Visão Beatífica, sempre vendo aspectos novos de Deus durante toda a eternidade, pois sendo Deus infinito, por mais que eles vejam a Deus no seu todo, não O vêem totalmente, posto que isso é impossível a qualquer criatura.
Mas, podemos concluir disso que um dos temas sobre os quais os Anjos conversam é a intervenção de Deus na Obra da Criação, ora o elemento mais importante da criação é o homem. Em última análise os anjos conversam sobre a ação de Deus na história da humanidade.[1] A respeito da criação os Anjos superiores comunicam aos inferiores tudo o que vêem em Deus, pois como vimos, os superiores vêem de maneira mais rica todas as coisas e iluminam os inferiores sobre aquilo que viram.
Poderíamos imaginar inclusive uma conversa angélica na qual os nossos Anjos da Guarda perguntam a algum Anjo mais elevado como compreender melhor aquele do qual é guardião e querendo saber por que fez aquilo, por que deixou de fazer isto, etc., e o Anjo superior explica que isso aconteceu por que sua natureza é constituída de tal maneira e que seria conveniente agir com ele de tal ou qual modo, que Deus tem este ou aquele plano para ele, etc. Enfim, cada um pode imaginar – ou dar-se conta de que já aconteceu – mil circunstâncias em que nossos Anjos da Guarda recorreram a Deus, através dos Anjos superiores, para nos auxiliar.
Portanto, nossos Anjos da Guarda estão muitas vezes conversando sobre nós com os Anjos que lhes são superiores, de maneira que nós fazemos parte de uma “cascata” de Anjos que estão preocupados com cada um de nós para nos proteger, auxiliar e interceder por nós junto a Deus.
Mas eles não conversam apenas entre si ou com Deus. Também com os homens eles se comunicam. Por uma sublime disposição da Providência Divina, os seres superiores se tornam intermediários entre Deus e os que lhes são inferiores. Assim os Anjos são intermediários entre o Criador e os homens.[2]
Como diz São Tomás, citando São Dionízio, o homem não é capaz de captar um conceito puramente abstrato se não houver em sua mente algo à maneira de um invólucro que sirva de imagem para poder entender. Por isso os Anjos apresentam as verdades que querem transmitir aos homens sob uma aparência sensível a seus sentidos.[3]
Os Anjos, tanto os bons quanto os maus, têm poder sobre a imaginação humana[4], podendo nos inclinar à prática da virtude, dando-nos boas inspirações, sugerindo-nos bons propósitos, podem nos ajudar em nossas tarefas proporcionando-nos boas idéias, enfim, em toda sorte de ações podemos ser profundamente influenciado pelos espíritos angélicos. Os demônios, pelo contrário, estão sempre à espreita de uma oportunidade para nos fazer ofender a Deus, prejudicarmos nosso próximo, consentirmos em algum movimento de inveja, de raiva, sobretudo de desespero ou desânimo.
Para sabermos quem é que está agindo em nós existe um termômetro muito eficaz. Onde entra agitação ou perturbação, sempre a causa são os demônios. Quando sentimos alegria, paz de consciência e boas disposições de alma para ajudarmos os outros, nos sacrificarmos por alguém, podemos estar certos de ser isso fruto da ação dos espíritos angélicos.
Além desse tipo de auxílio que recebemos sempre de nosso Anjo da Guarda, a algumas almas Deus concede auxílios especiais. Por exemplo, Santa Faustina foi designada em determinado momento para ser porteira de seu convento. Entretanto, temia ela profundamente que o convento fosse algum dia invadido por bandidos. Pediu a Deus que a amparasse nessa difícil tarefa. Assim narra a santa o que aconteceu: “‘Minha filha, assim que fostes designada para este serviço, pus um querubim para te guardar. Portanto, não te inquietes.’ Depois de minha conversa com o Senhor, vi uma leve nuvem branca e, dentro na nuvem, um querubim, de mãos postas, cujo olhar era semelhante ao relâmpago.” [5]
Isso pode não nos acontecer todos os dias, ou talvez nunca na vida. Tanto melhor, pois Deus está querendo nos cumular de méritos pedindo que acreditemos sem ver. O que é absolutamente certo é que, vendo ou não, temos constantemente ao menos um Anjo que está ao nosso lado para toda e qualquer necessidade. Muitas vezes ele mesmo toma a iniciativa de nos ajudar, mas deixá-lo-iamos muito contente se nós também pedíssemos sua intercessão.
Ter um Anjo da Guarda é um dom do qual Deus é tão cioso que inclusive os não batizados o possuem. Antes do batismo não se pode receber a Eucaristia, não se tem a inabitação da Santíssima Trindade, não se tem a Deus como Pai e Amigo dentro da própria alma, entretanto Deus quer dar a todos um protetor e um amigo de todos os momentos a todos os homens.[6]
Se nós sentimos tantas vezes as insídias diabólicas a combater contra nós, com quanto mais razão não estará nosso Anjo da Guarda a combater por nós? Se ele nos permite alguma tribulação, provação ou sofrimento, é apenas para nosso bem, embora possamos não entender naquele momento.[7] Mas quanto mais nos sentimos abandonado, mais estamos sendo aparados insensivelmente por nosso Santo Anjo.
Quantas vezes a mãe não dá à criança um brinquedo, e, notando nesta um certo desprezo pelo brinquedo finge que vai tirá-lo de suas mãos? Então a criança se reanima na consideração do brinquedo. Assim também faz conosco o nosso Anjo da Guarda. Quando ele percebe que estamos entorpecidos na vida espiritual ele parece se afastar de nós, mas na realidade ele nos está aproximando dele. A melhor maneira de encaminhar alguém para o bom caminho é atraí-lo para esse caminho e não obrigá-lo a entrar por ele.
Peçamos, pois, a Deus e a sua Mãe Santíssima uma devoção entranhada aos Anjos, esses gloriosos intercessores celestes, de que muitas vezes esquecemos.
[1] Cf. AQUINO, São Tomás de, Suma de Teología, I pars, quest. I, q. 113, a. 8, sed contra e resp.
[2] Cf. AQUINO, São Tomás de, Suma de Teología, I pars, quest. I, q. 111, a. 1
[3] Cf. AQUINO, São Tomás de, Suma de Teología, I pars, quest. I, q. 111, a. 1
[4] Cf. AQUINO, São Tomás de, Suma de Teología, I pars, quest. I, q. 111, a. 3
[5] Faustina, p. 330.
[6] Cf. AQUINO, São Tomás de, Suma de Teología, I pars, quest. I, q. 113, a. 5
[7] Cf. AQUINO, São Tomás de, Suma de Teología, I pars, quest. I, q. 113, a. 6