Paganismo e Cristianismo: Duas mentalidades opostas

Redação (19/06/2010, Virgo Flos Carmeli) A Roma Imperial, com os seus 800 anos de existência, vinha se arrastando em meio a práticas supersticiosas, imorais e sanguinolentas. O Império Romano se encontrava como a um doente agonizante a quem não se pode dizer que seus dias estão contados. Daí , então, festejarem com “pão e circo”, sem querer verem de frente a realidade que tinham diante de si: a podridão de todo o império. Num mundo cruel e violento, cheio de egoísmo, eram inacreditáveis as práticas adotadas pela nova Religião que surgia. O querer bem ao próximo, a honestidade em seus trabalhos, a pureza de seus costumes, faziam dos cristãos um alvo da curiosidade de todos quantos os cercavam. Entretanto, “o último requinte das sociedades pervertidas é não ter forças para o remorso; por isso não toleram no próximo atos que a condenem.” [1] Assim, em pouco tempo de existência, a Igreja tornou-se  alvo da maior perseguição jamais vista por toda a história, desencadeada primeiramente por Nero, mas que ainda haveria de durar quase três séculos.

Vejamos um pouco um dos principais motivos desta perseguição, que consistia na profunda diferença de mentalidades entre o paganismo, com seus costumes depravados, e o cristianismo que nascia cheio da seiva brotada pelo lado transpassado de Cristo.

PAGANISMO

Não são poucos os livros de história que elogiam certas qualidades dos povos da antiguidade, e que de fato as possuíam. Assim, temos os egípcios que figuram como uma das mais gloriosas nações da antiguidade, de onde os gregos tiraram boa parte de sua cultura e os romanos por sua vez buscaram na Grécia muito de sua civilização.[2] Entretanto, ao observarmos a história, vemos páginas negras de barbarismos praticados pelos povos da Antiguidade, inclusive o povo romano. O célebre dito de Lucano – “homo homini lúpus” – reflete bem a terrível realidade das leis e costumes vigentes na Antiguidade pagã, antes de a Igreja Católica difundir por toda parte o mandamento de seu Divino Fundador: Amai-vos uns aos outros como Eu vos tenho amado.

BABILÔNICOS, ASSÍRIOS E PERSAS

Tanto o povo babilônico quanto o assírio, tiveram dias de grande glória, entretanto, a história nos conta que após terminarem suas guerras, eles realizavam aparatosos desfiles, em que os reis e generais carregavam com grande ostentação os objetos saqueados aos inimigos. Não contentando-se com uma simples vitória, furavam os olhos dos prisioneiros, cortavam-lhes as orelhas, arrancavam o nariz, e os faziam entrar na cidade acorrentados, como se fossem animais, sob as imprecações e a zombaria do povo vencedor. Os próprios Persas, povo que ficou conhecido por sua grande benignidade, cometeram graves erros, por exemplo, quando o Imperador Persa de nome Cambises, mandou matar duas mil pessoas no Egito, em vingança a um desacato sofrido por parte de um egípcio.[3]

SOCIEDADE GRECO-ROMANA

O Direito Romano compendia leis baseadas no direito natural, tão bem redigidas que foi herdado em boa medida pelos códigos civis modernos. Contudo, mesmo esse direito, antes de ser suavizado pelo cristianismo, continha determinações desumanas. Basta lembrar que dava ao pai direito de vida e morte sobre o filho. Figuravam como uma das principais atrações do império os gladiadores que com uma vil despedida, se entregavam à morte com o orgulho de estarem servindo à divindade do Imperador: “Ave, Cesar, morituri te salutant!”.

Se tal era a situação dos gladiadores, pior era a dos escravos. Em geral, estes eram prisioneiros de guerra, ou descendiam de prisioneiros de guerra. Para eles não havia direitos. O escravo era considerado como um objeto de propriedade do seu senhor, que este podia destruir a qualquer momento, por um simples ato de vontade. Houve época em Roma que eram tão numerosos os escravos que estes custavam menos que um rouxinol.[4]

Como acontece naturalmente hoje em dia, procura-se ocultar o pior dessas coisas, para apresentar o mundo antigo quase exclusivamente por seu aspecto favorável, contudo, por mais que se escrevesse, poucas seriam as palavras para relatar os terríveis costumes pagãos antes da vinda de Nosso Senhor Jesus Cristo.

O CRISTIANISMO EM CONFRONTO COM O PAGANISMO

Analisando a história de cada povo que precedeu a vinda de Nosso Senhor Jesus Cristo à Terra, vemos com clareza um ponto em comum a todos eles: o egoísmo. E é em uma sociedade penetrada de alto a baixo por este vício, que aparece uma nova Religião que tem como uma de suas principais bases o amor ao próximo; e de tal maneira isto era diferente de tudo quanto se conhecia até então,  que passou para história a exclamação dos gentios diante dos cristãos  relatada por São Lucas: “Vede como eles se amam!”

Não houve na história tamanho contraste de mentalidades como o que ocorreu entre o paganismo e o cristianismo. O paganismo com sua desenfreada busca de prazeres, a corrupção dos costumes, a vingança e a ambição da glória, era impugnado pela moral dos cristãos que proibia até um olhar desonesto e que possuía por norma o amor aos próprios inimigos. Enquanto ali se entregavam a festas cheias de pompa, aqui se tinha por supremo bem, uma consciência pura e o desprezo do mundo. Eis, em poucas linhas, o paralelo estabelecido entre o mundo antigo e a doutrina da Igreja:

O mundo antigo parecia vacilar entre excessos igualmente reprováveis. De um lado, o despotismo excessivo, de outro a anarquia demolidora. De um lado, a exagerada concentração de riquezas, e de outro a sua consequência indireta, uma plebe paupérrima e revoltada. Finalmente, de um lado, impérios poderosíssimos que viviam na opulência a mais completa, e de outro lado povos que gemiam na miséria, sob o jugo de sua opressão. A todos estes excessos, a pregação da Igreja Católica veio trazer uma solução que representou o equilíbrio. No terreno político, o Cristianismo afirmou a autoridade, mas condenou o despotismo. No terreno econômico, afirmou a propriedade, mas condenou a excessiva concentração de haveres nas mãos de poucos proprietários. No terreno familiar, afirmou a monogamia contra a poligamia e, sujeitando embora a mulher e os filhos ao marido, proclamou a sua dignidade eminente, proibindo o chefe da família que os tratasse como escravos ou criados.[5]

A boca fala aquilo de que o coração está cheio, e por isso, cada cristão se transformava rapidamente em zeloso missionário. O espírito de caridade  impelia-os a comunicar aos outros a verdade, que reconheciam ser o bem supremo e por isso exclama São João Crisóstomo: “A maior prova do poder de Jesus se mostra em que sua doutrina, em 20 ou 30 anos, penetrou todo o mundo.” [6]

Vendo assim a rápida expansão do cristianismo, não faltaram aqueles que quisessem destruir aquela religião que tanto contrastava com a vida laxa que levavam, e para fazer desaparecer aqueles que lhes causavam peso na consciência, não tiveram escrúpulos em acusar os cristãos dos piores horrores.

 “Homens que praticavam a virtude em grau além do humano eram acusados de vícios que horrorizam a natureza. Eram acusados de incesto, aqueles que encontravam suas delícias na castidade. Eram acusados de devorar seus próprios filhos, os benfeitores de seus perseguidores.” [7]

Não tendo outro meio, senão a mentira e a calúnia, homens, mulheres e crianças são entregues à morte por cometerem o único “crime” de serem cristãos.

CONCLUSÃO

É por algumas simples calúnias infundadas, que começava na história da humanidade, a maior e mais cruel perseguição de todos os tempos, que haveria de perdurar durante 300 anos. Qual o motivo legal desta perseguição? Um motivo religioso? Um motivo político? Não poderia ser nenhum dos dois, pois no campo religioso, o império Romano com sua superstição por vezes infantil, aceitava e dava liberdade completa a todas as formas de crenças. No campo político, nunca se encontrou um só cristão em algum levante contra o imperador. A verdade é que o cristianismo já nasceu odiado e assim o será até o fim do mundo. Essa perseguição e esta luta cessarão somente no momento em que o mundo assistir o glorioso cortejo dos anjos e dos santos precedendo a triunfal vinda de Nosso Senhor Jesus Cristo que julgará a todos os viventes e dará a cada um a definitiva sentença que fixará os justos na glória do Reino dos céus e os réprobos na sua justa e eterna condenação.

Anderson Fernandes Pereira – 2º Ano de Teologia


[1] Martins, Oliveira. Dom Nuno Álvares Pereira.

[2] Revista Dr. Plinio nº 38 p. 15 a 19.

[3] Idem.

[4] Apostila do aspirantado.  p. 326

[5] Revista Dr. Plinio. Nº 41, p.17.

[6] Apud WEISS, J.B. História Universal.  p. 781.

[7]  OLIVEIRA, Plinio Corrêa de.  Apostila de Teologia da História. Iª série, aula 6.