Redação (24/06/2010, Virgo Flos Carmeli) À prática de esportes ajuda um ambiente agradável, arejado e de preferência com belos panoramas. Todavia, alguns jovens alemães escolheram um ambiente inusual. Não é nem a terra, nem o ar, nem a água, nem a grama. Resolveram adentrar-se… na lama. Olhos, bocas e corpos em contanto com lodo artificial era o cenário, por certo nada atraente, da Wattoluempiade, ocorrida na cidade alemã de Brunsbüttel, na Província de Schleswig-Holstein, próxima à Dinamarca. 500 participantes estiveram presentes no evento. O objetivo era arrecadar fundos em benefício da Sociedade de Luta contra o Câncer[1].
O objetivo da Wattoluempiade é louvável pelo aspecto caritativo, realmente um gesto solidário e admirável, talvez consolador para as famílias e para os enfermos… entretanto, não haveria outros modos mais eficazes? Estes jovens estariam dispostos a servir os doentes no hospital por pura caridade cristã? Seriam capazes de seguir o exemplo de um São Damião de Veuster, São Luís de Gonzaga e tantos outros religiosos que dedicaram sua vida a serviço dos doentes? É possível que a Olimpíada de Lama tenha sido realmente eficaz para arrecadar fundos. Lembra um pouco a frase de Maquiavel: Os fins justificam os meios… Hegel achava que os purificava, Nietzsche que os justificava, para o utilitarismo e o consequencialismo, que permanecem na mentalidade quotidiana, o que importa é o homem ser feliz, porém, no imediato. O fim último perde sua razão de ser. Parece que a dignidade humana também, e se bem que os supostos bípedes da foto pareçam contentes chafurdando, perguntamo-nos se não haveria outros meios mais eficazes, ou certamente mais limpos…
Outra imagem que partilho é a de um animalzinho encantador. Trata-se de um Arminho. Sua pele, de uma alvura excepcional, é símbolo da virtude da pureza. Pois, de fato, em tempos antigos quando o caçavam, cercavam sua habitação com lama, mas o cândido animal, como se tivesse inteligência, preferia ser capturado pelos caçadores a deixar-se manchar pelo lodo. Por esta razão, era representado pelos artistas medievais e renascentistas como símbolo da virtude angélica da pureza.
O Arminho, com o nome latino de mustela erminea, mede apenas cerca de 33cm de cumprimento e pesa 120 gramas. Alvo, limpo e belo, em síntese, encantador, é um carnívoro que se alimenta de animais menores, desconhecido no Brasil, talvez por não estar ameaçado de extinção, pois é possível criá-lo em cativeiro.
Foi usado por Leonardo da Vinci em uma de suas obras, e a Rainha “Virgem” da Inglaterra, Elisabete I, foi representada com o amável animal. Na arte, o arminho é frequentemente “emoldurado” pelo adágio latino: Malo Mori Quam Foedari, ou seja, “Antes morrer que a desonra”. O que faz lembrar a frase de um discípulo de São João Bosco, padroeiro da juventude, São Domingos Sávio: “Antes morrer que pecar”.[2] Aliás, o Pe. Manuel Bernardes, no início do livro Nova Floresta, ao referir-se a São Roberto Belarmino (“belo arminho”) menciona a antiga técnica de caça de arminhos e aplica-a à pureza, integridade moral e nobreza deste dominicano, Doutor da Igreja.[3]
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Contraste chocante entre estas duas espécies de animal apresentados em cada clichê. Um irracional e limpo, o outro, racional e…
Para quem considera a dignidade do homem, inteligente e capaz de relacionar-se com o Deus, imagem e semelhança, se resvalando na lama e degradado de tal maneira, é impossível não ser tomado de espanto.
Se o arminho é símbolo da pureza, a lama não será um símbolo contrário? O Divino Mestre, na parábola do Filho Pródigo, mostra como ele esbanjou seus bens e terminou disputando as bolotas dos porcos, na lama do chiqueiro, atingindo assim o termo da decadência moral e social.
Rezemos para que a graça de Deus toque os corações e a humanidade volte à casa paterna, a fim de erguer-se do lodaçal e seguir o lema admirável e puro de um arminho: “Antes a morte que a desonra”.
Marcos Eduardo Melo dos Santos – 2º Ano de Teologia
[1] Informações e foto do Site noticiário da UOL, Universo On-line.
[2] BERNARDES, Artur. Nova Floresta. São Paulo: Editora das Américas, 1959.
[3] LAPIN, Peter. São Domingos Sávio. 4 ed. São Paulo: Salesianas. 1999.