Quando o celebrante precisa de pilhas

Redação (21/05/2010, Virgo Flos Carmeli) Um Robô-“padre”, chamado I-Fairy pelo seu fabricante Kokoro, “celebra” casamento no Japão. Essa notícia publicada no site Terra, narra os detalhes da cerimônia, que contava com 50 convidados, sendo que quase ninguém prestava atenção aos noivos, pois estavam todos com os olhos fixos no… robô.

Já há alguns anos que notamos certas vantagens no rápido avanço tecnológico mundial. Entretanto, os efeitos produzidos nas pessoas são diversos; em geral têm sido dois: alegria e tristeza. Porém, o mais comum, é encontrar esses dois sentimentos numa mesma pessoa. Não é preciso falar muito sobre o motivo da alegria, pois esse progresso pode trazer benefícios para o bem particular ou comum, seja saúde, facilidade de comunicação, de transporte, etc. E a tristeza? Ouvem-se tantos lamentos pronunciativos de uma forte contrariedade em relação a vários aspectos desse crescimento, como máquinas que tomam o lugar dos homens em suas profissões, ou até mesmo catástrofes que podem ocorrer devido à criação de sofisticado armamento, etc.

Entretanto, existe outro fator a considerar: é o teológico. Naqueles em que a profunda religiosidade se faz notar – incluo também, é claro, os teólogos – observamos a mesma reação que é produzida no comum das pessoas. Porém, sob um prisma diferente. Qual?

No século passado, o Magistério da Igreja alarmou acontecimentos negativos que podiam vir acompanhados desse desenvolvimento. Assim declarou a Constituição Pastoral Gaudium et Spes: “Como acontece em qualquer crise de crescimento, esta transformação traz consigo não pequenas dificuldades” (GS 4). A primeira dessas dificuldades não será, talvez, o esquecimento de Deus? O minguamento da Fé? E, por conseguinte, a perda do senso, e, por assim dizer, do gosto por tudo aquilo que é sobrenatural? Mais adiante a mesma Constituição continua: “ao contrário do que sucedia em tempos passados, negar Deus ou a religião, ou prescindir deles já não é um fato individual e insólito: hoje, com efeito, isso é muitas vezes apresentado como exigência do progresso científico” (GS 7). É nesta perspectiva que o Teólogo deve avaliar os prós e os contras do tema em questão.

Mas, para não desviar do assunto inicialmente tratado; o que dizer do I-Fairy? Poderá esse andróide ou seus “descendentes” tomar o lugar dos sacerdotes? É claro que não. Ainda que tenham os olhos piscantes ou uma capacidade maior do que I-Fairy, por exemplo, a de executar 18 tipos de movimento com os braços e repetir sons pré-programados, nunca terão aptidão suficiente para exercer ministério tão sagrado.

É bem provável que a intenção dos empreendedores dessa cerimônia realizada no Japão, não fosse senão a de fazer um teatro ou uma propaganda do novo produto. Porém, ela nos dá um bom pretexto para analisar brevemente o papel do sacerdote, ministério esse que participa do Sacerdócio de Cristo que é único e tem por missão principal a mediação entre Deus e os homens, oferecendo-Lhe as orações do povo (Cf. III, q. 22, a. 1 resp.). Além disso, a Igreja ensina que: “no serviço eclesial do ministro ordenado, é o próprio Cristo que está presente à sua Igreja enquanto Cabeça de seu Corpo, Pastor de seu rebanho, Sumo Sacerdote do sacrifício redentor e Mestre da Verdade. A Igreja o expressa dizendo que o sacerdote, em virtude do sacramento da Ordem, age “in persona Christi Capitis” (CIC 1548). Assim, para que se faça algo na pessoa de Cristo Cabeça, é necessário ser membro desse Corpo.

Portanto, se alguém tiver a oportunidade de encontrar-se com nosso caro I-Fairy, ainda que não entenda, dê-lhe o seguinte conselho, carinhoso e de coração, na medida em que se pode sê-lo para uma máquina: respeite seus limites, suas pilhas não duram para sempre…

E este matrimônio, durará?

Lucas Alves Gramiscelli – 2º Ano de Teologia


Notícia e foto em: http://tecnologia.terra.com.br/noticias/0,,OI4434220-EI12886,00-Robopadre+celebra+casamento+no+Japao.html