Wolfgang Amadeus Mozart: imortal gênio musical, amigo de Deus

Redação (02/11/2010, Virgo Flos Carmeli) Dir-se-ia que Deus tem seus “caprichos”. Por vezes, concentra quantos talentos, graças, e dons em um só homem. Os gênios marcam a História com sua glória que, em última análise, procede da gloriosa bondade divina. Assim aconteceu na História da Música com Wolfgang Amadeus Mozart.

O “menino-prodígio” – como dizem os alemães, der Wunderknabe –  irrompeu desde cedo com seu incrível talento musical no mundo barroco de Salzburgo. Com seis anos, coroado com “sua peruca e sua espadinha apertada à cintura” — como recordava Goethe — deslumbrou toda a Europa.

Conta-se que, com apenas seis anos já tocava violino, cravo e órgão. Entre um concerto em outro, Mozart deixava-se infantilmente deslizar no piso encerado do Palácio Imperial de Hofburg, em Viena. Em um dos divertidos percursos, esbarrou com uma das princesas da Casa de Habsburg. A menina de apenas 11 anos ajudou-o a levantar-se. A gentil princesa chamava-se Maria Antonieta, mais tarde, Rainha da França[1].

Viena, Paris, Londres, Roma, em todas as partes, platéias entusiasmadas o aclamariam. Cada cidade era presenteada com a improvisação de uma melodia.

Inúmeras são as narrações de fatos que atestam seu portentoso gênio musical. Ainda menino, Woferl – como era apelidado – ditava para seu pai minuetos espirituosos. Assistia a concertos que duravam horas, e de volta ao lar, os reconstituía de cor ao piano.

Aos 13 anos, Mozart compôs sua primeira ópera, intitulada Bastião e Bastiana. Seguiram-na mais de 50 sinfonias, 20 óperas, 20 missas para orquestra, coro e solistas, inúmeros concertos. Ainda não se definiu o inventário geral de suas composições, muitas delas escritas em brevíssimo tempo. Sem revisão, as entregava a um copista para serem impressas e executadas. Escreveu, por exemplo, de improviso, a abertura de sua ópera Don Giovanni, disponibilizando-a aos instrumentistas vinte minutos antes da estréia, quando já “aqueciam” e afinavam os instrumentos.

Dotado de uma inteligência vivíssima, falava e escrevia corretamente o latim, alemão, francês, italiano e inglês. Enobrecido pelo ambiente aristocrático, vestia-se sempre com pulcritude e elegância, costume conservado desde a infância, sabendo admirar obras que não eram de sua autoria. Católico, ao ouvir o cântico Gregoriano, Mozart afirmou: “Daria toda a minha obra para ter escrito o ‘Prefácio’ da Missa Gregoriana”.[2]

Suas duas mais famosas óperas povoam os cenários dos grandes teatros: A flauta mágica e Dom Giovanni, cujas partituras melodiosas entusiasmam os ouvintes, mas constituem o terror dos regentes e solistas que têm de haver-se com elas…

Uma de suas últimas obras, ouvida e comentada recentemente pelo Papa, merece especial atenção. Caindo doente em Praga, não mais recobrou perfeita saúde. Todavia, relatos posteriores o mostram de volta a Viena engajado em ritmo intenso de trabalho, envolvido com a finalização do Réquiem e assombrado com premonições da morte. Não se sabe ao certo o limite entre a lenda e a realidade nas descrições dos últimos dias de Mozart. Embora, doente, continuava a escrever várias cartas onde demonstra um humor jovial[3].

Em novembro de 1791, novamente doente, recolheu-se ao leito. No início de dezembro sua saúde parecia melhorar, e pôde cantar partes do Réquiem inacabado com alguns amigos. Agravando-se seu estado, em torno da uma da manhã de 5 de dezembro, expirou.

Sobre o “máximo músico”, comenta o Papa, “todas as vezes que ouço a sua música não posso deixar de me recordar da minha igreja paroquial, onde, quando eu era jovem, nos dias de festa, era executada uma sua ‘Missa’: no coração eu sentia que um raio da beleza do Céu me tinha alcançado”.

“Em Mozart tudo é harmonia perfeita, cada nota, cada frase musical é assim e não poderia ser de outra forma; também os opostos estão reconciliados e a Mozart’sche Heiterkeit, a ‘serenidade mozartiana’ tudo envolve, em cada momento. Trata-se de um dom da Graça de Deus, mas é também o fruto da fé viva de Mozart, que — sobretudo com a sua música sacra — consegue fazer transparecer a resposta luminosa do Amor divino, que dá esperança, também quando a vida humana é dilacerada pelo sofrimento e pela morte”[4].

Mozart morreu jovem, com 35 anos. Se é verdade que o amor de Deus cria e infunde a bondade na criatura e tudo em última análise tem origem no Autor do Universo, foi por causa deste amor infinito que Mozart morto é “imortal”[5].

Amor que se reflete inclusive no nome. Batizado com o nome Theophilus, preferia ser chamado em suas versões francesa ou germânica, Amadé ou Gottlieb, ou ainda na forma latina, Amadeus, mais próximo da tradução portuguesa.

Marcos Eduardo Melo dos Santos


[1] Cf. PAHLEN, Kurt. História Universal da Música. São Paulo: Melhoramentos, 1965.

[2] Cf. DANIEL-ROPS, Henri. A igreja das Catedrais e das Cruzadas. V. III. São Paulo: Editora Quadrante, 1993, p. 429.

[3] Cf. DANIEL-ROPS, Henri. A igreja das Catedrais e das Cruzadas. V. III. São Paulo: Editora Quadrante, 1993, p. 429.

[4] BENTO XVI. Discurso no final do Concerto oferecido pela Pontifícia Academia de Ciências. Castel Gandolfo. 7 set. 2010. Disponível em: www.vatican.va

[5] Cf. Suma Theologiae. 1,20,2 in THOMAE AQUININATIS. Summa Theologiae. Opera Omnia. Coord. Roberto BUSA. t. 3. Torino: Aloisianum: 1980.